Garrincha, o gênio da pernas tortas, "ganha" a Copa para o Brasil


Na Copa do Mundo de 1958, em gramados suecos, o mundo já assistira sem muito entender aquele jogador improvável, de dribles que pareciam previsíveis, fazer os adversários, um a um, de tolos para chegar à linha de fundo e consagrar Vavá com cruzamentos tão violentos quanto precisos.

Era Garrincha, o gênio da ponta-direita, um jogador que fazia por um lado do campo - e driblando sempre na mesma direção - o que muitos outros tentavam de várias formas sem conseguir o mesmo brilho.

Como explicar a genialidade de um jogador que não se cuidava fisicamente, não gostava de assistir a futebol, mas sim de jogar, principalmente as peladas de pés descalços no campo de terra batida com os companheiros do distrito de Pau Grande.

O Garrincha que, mesmo já campeão do mundo, continuava a embarcar numa longa e cansativa viagem de trem desde Pau Grande até General Severiano, no bairro do mesmo nome para treinar no seu Botafogo. Simples, parecia não levar o futebol muito a sério, e desse jeito costumava provocar o amigo e apaixonado rubro-negro, Malvino, lá na cidadezinha onde moravam em toda véspera de um Botafogo x Flamengo.

- Malvino, amanhã é dia de eu brincar com o meu amigo Jordan (este era o lateral-esquerdo do Flamengo encarregado de marcá-lo).

À Copa do Mundo do Chile, chegou no auge da forma. Com ele e Pelé no ataque, formado ainda por Didi, Vavá e Zagalo, seria difícil impedir o bicampeonato do Brasil. Nosso time era cheio de craques e muito superior aos adversários.

Só que Pelé ficou fora de combate logo no segundo jogo. Parecia ser o que Garrincha esperava para assumir de vez a responsabilidade, ser definitivamente o senhor da bola e dos caminhos que levariam a Seleção Brasileira ao título.

Ele exagerou. Marcou gols de cabeça, que não era o seu forte, marcou gol de falta, fez gol com a perna esquerda. Destruiu todos os sistemas defensivos montados para anulá-lo e ainda foi expulso na semifinal contra o Chile, outro fato estranho à sua carreira. Logo ele que sofria marcação severa, às vezes na forma de pontapés, mas não revidava nunca.

Por uma muito bem orquestrada manobra de bastidores, não foi suspenso e entrou na final contra a Tchecoslováquia. Estava febril, não desequilibrou como até então fizera, e sequer jogou bem.

Não precisava. Garrincha já era o dono da Copa do Mundo de 1962, o seu melhor jogador, aquele que fez o mundo se render ao futebol de exceção do maior ponta-direita da história.