Portuguesa, mais do que esperávamos, menos do que merecia


Surpreendido. Esta foi à sensação que me comoveu ao assistir a querida Lusa. Esclareço que surpreendido de maneira positiva. Mas confesso que é complicado mensurar a goleada sofrida perante o Fluminense, a final, como ficar surpreendido positivamente ao sofrer uma derrota de 4x1? A resposta não é simples, porém, há nomes encarregados: Fred, mesmo não estando no melhor de seus dias ele brilhou; os vilões, os três zagueiros da Lusa, incrível, foram tentados e caíram como patinhos perante o centroavante tricolor.

Geninho possui pouco tempo de trabalho, mas já é possível ver em campo suas ideias. Alias, ideias estas com embasamento, pois é visto no relvado o que o treinador esbravejava fora das quatro linhas.



Sendo mais genérico e simplista, a Portuguesa atua no 3-5-2. Porém, prefiro ser mais especifico, abrir as portas para interpretações, sendo assim, a Lusa possui algumas variações em campo:

Flagrante tático : Em momento raro o 3-5-2 "alinhado" da Lusa.
- 3-3-2-2: Esquema mais usual e com mais frequência visto em campo. Toma forma da seguinte maneira: três zagueiros, sendo um na sobra e outros dois mais a frente; dois alas, eu disse alas, ambos não aprofundam pelo lado; tripé de meio campistas de base alta, estes extremamente solícitos ao jogo, tanto defendendo quanto atacando; dois atacantes, sendo um de velocidade e outro na referencia.

- 3-4-1-2 : Este utilizado pelo simples recuo de um dos meias. A equipe passa a formar um triangulo de base baixa no meio. Geralmente aplicado quando o adversário adentrava em seu campo.

- 3-1-4-2 : Esquema quando a equipe esta com posse de bola e em posicionamento ofensivo. Os tripés de zagueiros e volantes se mantêm. A mudança toma forma com alas passando e se alinhando aos meias mais adiantados.

Flagrante tático : Equipe postada no seu campo. Jogadores deixando zagueiros "criarem". Lusa em transição de esquemas: em linhas pretas o 3-3-2-2 com triangulo de base alta; em plena transição para o 3-4-1-2 em amarelo pois Léo Silva recua alinhando a Boquita.
Mais interessante que os “numerozinhos” em campo foi a proposta de jogo.

A Lusa se postava, invariavelmente, defensivamente em seu campo. A equipe marcava em bloco recuado fechando espaços e desarmando “agressivamente” no seu campo. Não há marcação em campo alto, seja em transição defensiva ou posicionamento, até porque a equipe sempre prima por recuar e agrupar jogadores, para compactar e não deixar espaços.

De maneira inteligente e sabia, Geninho pediu a seus jogadores para deixarem os zagueiros “criarem”, ninguém dava bota neles, apenas cercavam e não cedia opção de passe a frente, apenas para o lado e recuos. Atacantes que, normalmente, ficam centralizados, sem bola, atuaram abertos, ficavam postados as costas dos laterais, não interferiram no passe do zagueiro, mas fechavam possível tentativa.

Outra curiosidade. Geninho não abdica de ter um jogador entre as linhas. Este jogador sempre fica posicionado para evitar possíveis ingressos do adversário às costas do meio e vir de frente contra os zagueiros.

Reparem no frame abaixo o sistema de cobertura da Lusa. Reação em cadeia, pois Léo Silva saiu para cobrir o bote de Rogério na esquerda. Reparem, em roxo, que Léo Silva era o "1" entre linhas, o coringa que fornece subsidio defensivo. Rogério passou a ser o ala pela esquerda e Raí o meia pelo centro.

Flagrante tático : Em linhas amarelas o "novo" 3-5-2 da Lusa com Léo Silva como zagueiro e Rogério como ala. Em roxo o recuo de Léo Silva para cobrir o bote do zagueiro. Em preto o habitual 3-5-2, porém sem Léo Silva.
Movimentação defensiva

Parece impossível que uma equipe com pouco tempo ao comando de seu treinador tenha este, importante, fator. Pois bem, Geninho sempre cobrou movimentação a seus jogadores, seja defendendo ou atacando. Acredito que de tanto pedir os jogadores o atenderam.

Quando havia vitória pessoal, erro na marcação, ou simples deslocamento para dar o bote no adversário, um dos jogadores saía de sua função de origem para cobrir o espaço vazio que o adversário descobrira. O coringa para cobrir este espaço, geralmente, era o “1” entre as linhas ou, o meia/volante que recuava para ao lado do cabeça de área.

Flagrante tático : Portuguesa postada no 3-1-4-2. Reparem que neste momento o "1" é Léo Silva. Fruto da movimentação do time.

Com um possível, intransponível, sistema defensivo, como é possível explicar o 4x1? Quatro jogadores tomaram as rédeas deste resultado e, Geninho.

Os três zagueiros tinham de marcar “apenas” Fred, o único centroavante carioca. Gustavo era o zagueiro da sobra, libero ao melhor estilo BRASIL, sem qualidade para sair jogando serve apenas como subsidio defensivo e garantir “sustentação” ao setor defensivo. Lima e Rogério os stoppers – termo inglês para zagueiro, joga para frear os atacantes, meias, quem vier a seu encontro - com incumbência de marcar e anular Fred.

De maneira INGENUA ou, pela qualidade de Fred, os zagueiros se perderam. Gustavo não cobria espaço de ninguém, Lima e Rogério foram envolvidos pelo centroavante. Fred, espertamente, não jogava pelo centro, preferiu cair pelos lados e as costas dos zagueiros, sendo assim sempre ficava no mano-a-mano contra um destes zagueiros, perigo iminente.

Geninho protagonizou a goleada após alterar sua equipe. O treinador mesmo perdendo mudou para tentar um melhor resultado, obviamente, porém, abriu as “pernas” para a equipe carioca. O sistema defensivo perdeu consistência e não foi mais o mesmo.

Flagrante tático curioso : Os triângulos da Lusa. Reparem que ambos de base alta, porém os zagueiros com triangulo aberto e espaçado e o meio campo mais compacto e próximo.
Depois de tanto prosear sobre o sistema defensivo, enfim chegamos ao “ataque”.
Logo se imagina que, atuando no 3-5-2, os alas sejam alas, nada de anormal, Raí e Luis Ricardo foram alas e não laterais mais adiantados. Com posse de bola a presença dos alas era simultânea, sim, os dois passando, apoiando. Raí procurando mais o flanco e Luís Ricardo verticalizando e adentrando na área.

Porque de dois alas no apoio? Geninho pediu a seu time movimentação nas peças – leias-se jogadores – e, principalmente, a bola. Com jogo objetivo não a Lusa não podia perder chances ao atacar. Sendo assim espaços tinham de ser encontrados da maneira mais rápida possível, a inversão de jogo era uma das alternativas e, como virar o jogo se não há ninguém do outro lado? Assim o apoio simultâneo dos alas se explica.

Como falei anteriormente, a Portuguesa prima por um jogo objetivo e arriscando tudo em seus ataques. Não há troca de passes para esperar o melhor momento, um possível erro adversário, a Lusa não tem qualidade para isto.

Geninho pede a seus jogadores para que se movimentem, descubram espaços futuros, confundam a marcação. Os jogadores o atendem, de especial três jogadores: o ala Luís Ricardo que ora aparece pelo centro, ora pelo flanco; os meias Moisés e Léo Silva, sempre com intensa troca de posição, presença ofensiva e defensiva.

Logo que a posse de bola é retomada os meias ditam o ritmo de jogo, sempre em velocidade e procurando a melhor oportunidade de passe. Quando se encontram no campo ofensivo a utilização de lançamentos às costas dos defensores e finalização de media e longa distancia é mais usual. A equipe prefere logo resolver à “parada” e não dar chances para o adversário armar seu contra-ataque.

Ofensivamente a Lusa fica devendo. Os atacantes Ricardo Jesus e Vandinho pouco participam ofensivamente, ficam a deriva no ataque e sequer recuam para interagir com seus companheiros.
Geninho, não à toa, desgastou mais suas cordas vocais com Raí. O lateral não executava o que seu professor o pedia, faltou agressividade e maior movimentação.
A equipe é dependente do trio, o coração dos movimentos ofensivos e defensivos: Léo Silva, Moisés e Luís Ricardo. Estes três fornecem “qualidade” ao time paulista.