Não adianta reclamar do plim-plim no vestiário.

Ao detonar Moça Bonita, Abel Braga acerta na reclamação, mas erra feio na direção. A detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Carioca, a mesma do Brasileirão, é uma "sociedade anônima". É uma empresa e, empresa que é, visa o LUCRO. Certamente, um baita lucro.

Assim, imaginar qualquer espécie de responsabilidade social da emissora para com o produto que compra é quase uma utopia. Até porque a responsabilidade maior com determinado produto, a princípio, é de quem o vende.

A comercialização das cotas de televisão é a maior fonte de renda para boa parte dos clubes do mundo INTEIRO.

No entanto, em praça mais ORGANIZADAS, as agremiações conseguem reduzir a DEPENDÊNCIA da grana advinda da telinha através da utilização de outros meios de obtenção de receitas.

Sobretudo, a arrecadação no estádio em dias de jogos, além do proveniente de contratos de patrocínio e dos diversos artigos licenciados adquiridos pelos fãs, nas lojas e sites oficiais.

Desta forma, por exemplo, na temporada 2010/2011, o Manchester United praticamente equiparou os percentuais de participação de direitos de TV, "matchday" (o dinheiro ganho com o público das partidas), e marketing em seu faturamento: foram 36%, 33% e 31%, respectivamente.

E nem é preciso apelar para casos ainda mais IMPRESSIONANTES como o do Arsenal e do Liverpool: enquanto para os Gunners o estádio Emirates foi a galinha dos ovos de ouro, nos Reds as camisas e outras "lembrancinhas" é que deram as cartas.

Em 2010, quando sagrou-se campeão brasileiro, o Fluminense teve ESPANTOSOS 63% de seus rendimentos operacionais oriundos da televisão, contra meros 20% do marketing, e irrisórios 17% das bilheterias das pelejas.

Dependência que provavelmente foi maximizada com o substancial aumento das cotas e que revela a falta de poder de enfrentamento do clube em relação à vênus platinada.

No fim, vale o velho ditado "manda quem pode, obedece quem tem juízo".

Todavia, é essencial repetir, a GLOBO apenas cumpre seu papel:ENRIQUECER mais e mais às custas do esporte número 1 do país.

Cabe ao Tricolor Carioca - e aos demais co-irmãos também, diga-se de passagem - elaborar soluções para que a dominação tenha seus efeitos, pelo menos, atenuados.

Soluções que passam pela organização de campeonatos atrativos, pela melhoria das condições de segurança nos estádios e pela criação de estratégias de marketing eficientes que fidelizem o torcedor.

Do contrário, Abel, não adianta reclamar do PLIM-PLIM no vestiário.


Texto do colunista Roberto Júnior