Sobre São Marcos

Devotos de São Marcos
A aposentadoria de São Marcos foi assunto geral durante a semana. Todos os veículos falaram do goleiro, quase esgotando o palmeirense de homenagens.

A coluna SobreFutebol não poderia deixar de inserir em seus arquivos um pitacão bacana sobre o santo.

Marcos chegou ao Palmeiras diretor da cidade de Oriente, em 1992. No mesmo ano, em amistoso disputado em Guaratinguetá, contra a extinta Esportiva, substituiu o então titular Carlos e estreou com a camisa que usaria pelos 20 anos seguintes.

Marcão deu sorte, já que os primeiros anos de profissional foram recheado de títulos, apoiados na parceria com a Parmalat.

Em 1999, Marcos assume a posição de Velloso (contundido) e se consagra ganhando a Libertadores daquele ano, com direito a eliminação do Corinthians nas quartas.

Em 2000, nova consagração, dessa vez defendendo pênalti de Marcelinho Carioca na semi da Liberta, novamente contra o Corinthians. A idolatria estava estabelecida, e Marcos passaria a ser chamado de santo.

O status nacional veio com a Copa-02. Marcos foi certamente o melhor goleiro do torneio, a despeito de Kahn ter levado o prêmio. Foi importantíssimo para o penta.

Voltando ao Palmeiras, foi exposto à maior vergonha da história alviverde: o rebaixamento em 2002.

No começo de 2003, Marcos recebe proposta do Arsenal, da Inglaterra. Mas, evidenciando seu caráter, simplicidade e amor à camisa, recusa a oferta e leva o Palmeiras de volta à elite, para 2004.

Nos anos seguintes, jejum e participações secundárias, até o título paulista de 2008. Desde então, nada de títulos, mas muitas lesões, dos pulsos aos joelhos.

No fim da temporada 2011, Marcos vai para as férias com a missão de decidir se seguiria a carreira. Depois de muito mistério, Marcos se reúne com a diretoria e comunica sua decisão: abandonaria desde já sua carreira, e rejeitava de pronto uma eventual despedida.

Marcos foi o melhor goleiro que vi, fez as defesas mais milagrosas. Tinha defeitos técnicos, mas debaixo das traves era muito bom.

Mas o que se destacava nele era a sinceridade e amor ao Palmeiras. Marcos sempre honrou a camisa do clube, se dedicou, e jamais se conformou com a acomodação alheia.

Vejamos algumas frases que ficaram marcadas:

“Ele não é meu amigo. Na minha casa, não entra mau caráter. Sou amigo de cara de bom caráter. Em casa, não entra ninguém que cospe em cara de juiz” (inconformado com as críticas feitas pelo comentarista Neto).

“O Felipão pediu para eu jogar e não sou pipoca. Disse para ele: pode me pôr. Mas se soubesse que o time estava na nhaca dessa de hoje falava para não me colocar” (depois da goleada sofrida contra o Coritiba, pela Copa do Brasil-11).

“Tem gente aqui que acha que quando chega no Palmeiras, vai ganhar 40, 50 mil por mês, vai pegar menininha na rua e pronto? Tem que mostrar coragem!” (sobre jogadores do elenco palmeirense).

“Estou com vergonha do nosso time. Ninguém aqui merecia colocar a camisa do Palmeiras. Ninguém, nem eu” (novamente sobre jogadores do clube).

“Acho que cobrar, exigir e até xingar é válido, mas não sou bandido para viver escondido ou ter que sair escoltado após um jogo de futebol” (comentando depois de incidentes com a torcida).

“Parece até um castigo. Manhã, tarde, fim de semana, você vai ao departamento médico. Você treina até mais que o pessoal joga. Vai enchendo o saco” (sobre o período de recuperação de lesões).

“Foi ridículo. Só fui perceber o erro quando minha mulher comentou comigo, dentro do carro e no caminho para casa, fui ao ataque pela primeira vez aos 29 minutos” (sobre a ida precoce ao ataque, em desesperada tentativa de empatar o jogo para o Palmeiras).

“Admiti que falhei no gol do Manchester e até cheguei a falar que estava bem se a partida fosse para os pênaltis. Se isso acontecesse, teria me consagrado. É um peso que carrego. A furada no gol do Vitória (o sétimo) passam até hoje na TV. Essas coisas fizeram com que eu aprendesse muito. Na final da Libertadores e durante a Copa de 2002 fui perfeito, sem erros. E na Série B tive muita responsabilidade naquele ano, mas tudo correu como imaginei” (relembrando seus principais erros na carreira).

“O sofrimento da torcida comigo vai só até o fim do ano” (depois de falhar, prenunciando o que se confirmaria semana passada).

O Palmeiras perde um grande goleiro, que certamente ganhará busto no Palestra, homenagem restrita a atletas que jamais vestiram outra camisa contra o clube. Apenas Ademir da Guia, Junqueira e Valdemar Fiúme mereceram a homenagem.

Foram 530 jogos e muitos títulos: Campeonato Brasileiro (1993 e 1994); Torneio Rio-São Paulo (1993 e 2000); Campeonato Paulista (1993, 1994, 1996 e 2008); Copa Mercosul (1998); Copa do Brasil (1998); Copa Libertadores da América (1999); Copa dos Campeões (2000); e Campeonato Brasileiro Série B (2003).

Pela Seleção Brasileira, 29 jogos e mais títulos importantes: Copa América (1999); Copa do Mundo (2002); e Copa das Confederações (2005).

Boa sorte Marcos, qualquer que seja sua nova função. Se for diretiva, tente não perder a sinceridade que te faz tão bacana.

Para mais sobre as frases de Marcos, cliquem aqui e aqui. Marcos é show.