Did you understand, Tim?

Há pouco, li um texto no blog do jornalista inglês Tim Vickery, especialista em futebol sul-americano da BBC, que - infelizmente, acho -  serve como um retrato das relações entre a maior parte dos torcedores, seus clubes, jogadores e dirigentes no futebol brasileiro.

Vickery inicia sua escrita voltando no tempo, precisamente 1 ano, ocasião na qual levou colegas de trabalho ao Engenhão para assistirem a Botafogo X Internacional, à época, jogo essencial para as pretensões de classificação do Glorioso à Libertadores. Já nesse ponto, o correspondente revela toda a surpresa de seus companheiros em relação ao comportamento dos torcedores da casa, que, em dado momento, insatisfeitos com o desempenho do time, começaram a vaiá-lo sem piedade. Atitude, completa, que se repetiu no último final de semana, quando, outra vez, a equipe carioca apresentou desempenho abaixo da média contra o Colorado.

E nessa segunda partida, Vickery vai além. Critica a posição dos "arquibaldos" em relação a Cortês, atleta que, após boas atuações no clube e na Seleção, foi alçado precocemente à condição de ídolo, e agora passa por uma difícil fase técnica, sendo alvo constante da ira da torcida, que, segundo o jornalista, "conseguiu o que queria" ao vê-lo substituído no domingo, ainda no intervalo.

E a saraivada de balas não para por aí. Para o inglês, as atitudes extremas - de rasgados elogios nas vitórias e de severas e impiedosas críticas nas derrotas - não se restringem às cadeiras, mas também atacam no cotidiano da mídia nacional. Conjunto que, reforça, na verdade se preocupa demais com assuntos menos importantes e se esquece de problemas maiores, entre eles, os elevados e absurdos gastos com a realização da Copa do Mundo.

O fato é que, ontem à noite, dava uma repassada nos posts que escrevi sobre o Fluminense, ao longo de 2011. E eles, não posso negar, vão de encontro ao descrito acima. Abel já foi burro, Sóbis desnecessário, Marquinho "caneleiro", Deco "bichado", Fred relaxado. Meros meses depois, Sóbis é essencial, Marquinho "guerreiro", Deco mago, Fred iluminado. Deles, apenas Abel continua com um pezinho na berlinda. E assim agiu boa parte da torcida tricolor durante o Brasileirão. Da mesma forma que agiram muitos dos torcedores de todas as agremiações que viveram de altos e baixos na temporada.

Retomando Vickery, nas vitórias os aplausos, nas derrotas as vaias, gestos simbólicos que encontraram suas devidas representações na imprensa, sob o, à luz da razão, discutível argumento de que o Brasileirão foi "imprevisível" - tão imprevisível que disputam o título o atual campeão, o atual terceiro colocado e o campeão da Copa do Brasil.

Imprevisibilidade e emoção, aliás, que tornaram qualquer outro assunto - lembra dos "elefantes brancos da Copa"? - secundários.

Mas, no fim das contas, ainda vasculhando por aqui os textos antigos, acabei por encontrar dois que talvez acrescentem algo e concluam bem a discussão.

No primeiro, "Casal sem Vergonha", tentei traçar um perfil sem vergonha do torcedor brasileiro, que quer ver o time ganhar a qualquer custo.

Do segundo, "Torcedor brasileiro não gosta de futebol, gosta de ganhar", não preciso dizer muito. O título fala por si só.

Did you understand, Tim?

Abraço a todos!