Você preferiria ver seu filho jogando no Brasil ou no exterior?


O cenário é amplamente conhecido. Como uma autêntica parideira, o Brasil dá a luz, a cada temporada, a vários talentos do futebol. E o destino de muitos deles, sabemos, não são as Laranjeiras, o Morumbi ou o Beira-Rio, mas a Europa e, de uns anos para cá, o Oriente Médio.

Não, esse não é mais um texto sobre o grave problema da debandada precoce de meninos dos gramados do país. Pelo menos não em seus aspectos comumente debatidos. Causas, consequências e as conhecidas, porém desprezadas, soluções para tal "praga" já foram deveras abordadas por esse espaço. Tudo chover no molhado, é claro, de modo que é hora de trazer à tona um aspecto dessa evasão pouco explorado, no entanto de profundidade aterradora.

Foi ontem? Não, minto. Na última sexta-feira, assisti a um epísódio ou capítulo, sei lá, do programa "Expresso da Bola" (o vídeo acima), do canal por assinatura SporTV, no qual os entrevistados eram os gêmeos Fábio e Rafael, crias da base do Fluminense, agora atletas do inglês Manchester United. E como nunca vira o desempenho dos dois ao microfone, confesso que me surpreendi de forma bastante positiva. Centrados, apegados à família, avessos a baladas e, sobretudo, conscientes de suas responsabilidades, os guris deram um show de profissionalismo. E olha que um deles, Fábio, tem pouquíssimas oportunidades no time principal dos Diabos Vermelhos e nem por isso sai a desancar seu treinador, Sir. Alex Ferguson. Aliás, foi o lateral-esquerdo responsável pelo melhor momento da atração, ao revelar não conceder entrevistas a veículos de língua inglesa por ainda não dominar o idioma e recear, sem querer, cometer algum deslize. Ah, como seria bom se alguns dos boleiros do país tivessem o mesmo cuidado na hora de lidar com as palavras.

Mas, enfim, o objetivo também não é fazer nenhum compilado da carreira das joias de Xerém. É, na verdade, propor uma reflexão um tanto perturbadora: para a formação moral desses jovens futebolistas a saída precoce para clubes bem-estruturados é mesmo a melhor alternativa?

E não falo assim á toa. Há argumentos dos mais plausíves que sustentariam o raciocínio. Pegue aí, por exemplo, nomes de outros dois jogadores que partiram da Terra Brasilis muito cedo. Caso do ex-são-paulino Denilson, do Arsenal, e de Eduardo da Silva, agora no ucraniano Shakhtar. Quando é que vocês ouviram algo de desabonador a respeito da carreira desses rapazes?

Lógico, antes que os ufanistas berrem, não se pode generalizar. Indisciplina existe em qualquer canto do mundo. Outro dia mesmo, o norte-irlandês Evans, zagueiro do United, quase se enrolou feio, sendo envolvido em um suposto caso de estupro. Contudo, convenhamos, há uma grande diferença entre o Brasil e o Velho Continente, quando o assunto é rebeldia.

E aí, gostaria de trazer à discussão outra cena marcante do domingo. Lembram que, faz uns meses, o meia Anderson, ex-grêmio, ameaçou forçar a saída de Old Trafford? Pois bem, devidamente enquadrado pela diretoria e comissão técnica do clube, o jogador passou por um período de reciclagem de valores no time "B" dos Red Devils. E o resultado foi ótimo. Na vitória sobre o Sunderland, Anderson foi um dos melhores em campo.

Conseguem reparar? Em certos momentos, se tem a impressão de que o futebol brasileiro não consegue educar suas revelações, formando craques, mas passando longe de formar homens.

Por que quem vai atuar lá fora ainda "criança" consegue desenvolver sua carreira de forma ordenada e disciplinada?

Estarão os pentacampeões condescendentes demais com os acessos de estrelismo de seus filhos?

Serão os gramados mero reflexo de uma juventude, sem generalizar, mal-formada em seus aspectos morais e éticos?

Se você fosse pai de um jogador preferiria ver seu rebento ser "criado" no Brasil ou no estrangeiro?

Perguntas que não querem calar.

Respostas que, a todo custo, temos de encontrar.

Pelos nossos filhos.

Abraço!