Buteco em Luto! E o futebol também...

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O jornalismo , o futebol, o buteco está de luto!
Foi-se um representante da "camisa 10" na arte de escrever da era de ouro da crônica esportiva.

Aos 83 anos, Armando Nogueira morreu na madrugada desta segunda-feira, em sua casa, na Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro. Há dois anos, Armando lutava contra um câncer no cérebro – que lhe roubou primeiro a capacidade de falar e escrever, duas das atividades que mais prezava.

O velório do corpo do jornalista será a partir das 13h desta segunda-feira, na Tribuna de Honra do Maracanã, até as 11h de terça-feira. De lá, o corpo seguirá para o enterro, às 12h, no cemitério São João Batista.

No estádio, lhe foi dada uma das maiores homenagens pela Superintendência de Desportos da Cidade do Rio de Janeiro (Suderj), que inaugurou o Espaço Armando Nogueira, localizado no acesso à tribuna de imprensa.

A foto do cronista aparece ao lado das de outros 72 grandes nomes da imprensa esportiva, como Ary Barroso, Jorge Cury e João Saldanha. O Governo do Estado do Rio decretou luto oficial de três dias. Armando deixa um filho, Armando Augusto Magalhães Nogueira, conhecido como Manduca, também jornalista.

De Xapuri para o Rio

Armando nasceu no dia 14 de janeiro de 1927, em Xapuri, no Acre. Mudou-se para o Rio de Janeiro com 17 anos, formou-se em Direito e começou a trabalhar como jornalista nos anos 50, no finado "Diário Carioca".

Foi repórter, redator e colunista. Trabalhou na "Revista Manchete", em "O Cruzeiro" (de 1957 a 1959) e no "Jornal do Brasil" – onde assinou a coluna “Na Grande Área” por 12 anos. De 1966 a 1990, trabalhou na TV Globo, sendo diretor da Divisão de Esportes e depois diretor de jornalismo, comandando o Jornal Nacional.

Em 1992, integrou a equipe da TV Bandeirantes nas Olimpíadas de Barcelona. Nos anos 2000, passou a integrar a equipe do SporTV, onde participava de mesas-redondas e tinha o programa “Papo com Armando Nogueira”. Na internet, teve o Blog do Armando Nogueira, em 2006 e 2007. Na imprensa escrita, o jornalista trabalhou por último no diário Lance!", onde tinha uma coluna.

Seu estilo doce e anedótico, que sempre buscava olhar para o esporte com poesia, influenciou várias gerações de torcedores e jornalistas. Armando, que participou de cobertura de Copas do Mundo desde 1954 - o que totalizou 14 Mundiais -, publicou dez livros sobre esporte, a começar por “Drama e glória dos bicampeões”- sobre a vitória do Brasil na Copa do Mundo de 1962. A seguir vieram outros títulos, coletâneas de crônicas publicadas em jornais brasileiros: “Na grande área”, “Bola na rede”, “O homem e a bola”, “Bola de cristal”, “O voo das gazelas”, “A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar”, “O canto dos meus amores”, “A chama que não se apaga” e “A ginga e o jogo".

Time de craques na Grande Resenha Facit

Nos fim dos anos 50, Armando participou ao lado de Nelson Rodrigues, João Saldanha e Luiz Mendes da mítica “Grande Resenha Facit” – a primeira grande mesa-redonda do futebol carioca, criada por Walter Clark, na época diretor da TV Rio.

No programa, que era ancorado por Luiz Mendes, o botafoguense Armando Nogueira discutia os principais lances da rodada do fim de semana do futebol com um time de craques: o tricolor Nelson Rodrigues, o também alvinegro João Saldanha e o rubro-negro José Maria Scassa.

Em setembro de 1966, o programa, com todos os seus participantes, foi para a TV Globo, levado por Walter Clark, que havia assumido o comando da recém-inaugurada emissora. Um mês depois, Armando Nogueira foi convidado para ser o diretor de jornalismo da TV Globo.

Fonte : Globoesporte.com

- Ele fez uma crônica linda no dia da minha despedida. Já acordei chorando. Ele disse que ‘A bola é uma flor que nasce nos pés de Zico, com cheiro de gol’. Alguém escrever uma coisa assim de você emociona muito – disse Zico, por telefone.

Frases marcantes do Mestre :

O Rei e a bola
"Pelé é tão perfeito que se não tivesse nascido gente, teria nascido bola."
Mané e o drible
"Para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio."
Perfeição
“A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus.”
Habilidade
"No futebol, matar a bola é um ato de amor. Se a bola não quica, mau-caráter indica."
Humor
"Anúncio: troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas."
Crítica
"Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão"
Ídolos
"Heróis são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania da alta performance"
Enciclopédia
"Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos".
Zico
"A bola é uma flor que nasce nos pés de Zico, com cheiro de gol."
O gol
“Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro."

Uma Crônica:

Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.

A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.

Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.

Na terceira, a bola ficou por lá; ou melhor, veio mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nu da cintura para cima. Era o dono da chácara.

A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.

No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha.
Do livro "Os melhores da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 22, extraímos o texto acima.

Nossas condolências ao mestre,

Douglas Nacif.