O Corinthians não é o Chelsea. Até porque o Santos está longe de ser o Barcelona.

O Corinthians não é o Chelsea. Até porque o Santos está longe de ser o Barcelona.
Ainda não vira o Corinthians jogar uma vez sequer nessa temporada. De modo que a imagem que tinha do time comandado por Tite era aquela transmitida por boa parte dos comentaristas esportivos e compartilhada por significativa parcela dos torcedores, inclusive corinthianos: a de uma equipe eficiente, sem brilho, sem craques, (para alguns) retranqueira, (para seu próprio vice-presidente) "medíocre".

Características atribuídas pelo senso comum que não tardaram a produzir comparações com o Chelsea que, segundo os entendidos de futebol, foi campeão europeu à base de um esquema que privilegiava primeiro o defender e por último, se possível, atacar. Embora existam números bastante convicentes para mostrar que o ferrolho dos "Blues" foi apenas escolha emergencial diante de um adversário muito superior no aspecto técnico a 99% das equipes do planeta.

Mas, voltando à noite de ontem, com o coração boleiro entupido por pré-conceitos, deitei no colchonete da sala à espera de um legítimo ataque contra defesa que, fatalmente, na minha deturpada visão, resultaria na classificação santista: ora, era óbvio, meu caro leitor, a versão tupiniquim do onze do meu xará Di Matteo não conseguiria parar por duas vezes seguidas o Barcelona da Vila Belmiro.

Admito, raciocínio tosco e, acima de tudo manipulado que, no final dos 90 minutos mais os acréscimos,trouxe à tona a certeza de que, de fato, o Corinthians não é o Chelsea. Até porque o Santos de Muricy Ramalho está longe de ser o esquadrão antes orquestrado por Guardiola.

Sei que é arriscado tirar conclusões a respeito de um time por apenas uma peleja, mas se, realmente, é um onze sem craques no mais restrito significado do termo, o finalista brasileiro da Libertadores passa distante de merecer tratamento semelhante ao dispensado, por exemplo, à Grécia vencedora da Euro 2004. Aquela, sim, equipe sem brilho, retranqueira e medíocre. E se discorda, só me explica como se pode chamar de retranqueira e medíocre uma equipe que possui dois bons meias, Danilo e Alex, e é capaz de protagonizar belas tramas como uma triangulação que por pouco não terminou no fundo das redes do adversário?

Já a respeito do Santos, me considero um tantinho mais apto a emitir opinião. Os frequentes aqui sabem, desde 2010, daquele time "maluco" de Dorival Júnior, de Neymar, Ganso, Robinho e André, o Peixe tornou-se uma espécie de segunda camisa. Justamente porque ainda vive em minha mente, desde 2010, aquele time "maluco" de Dorival Júnior, de Neymar, Ganso, Robinho e André, que bem acostumou ao apaixonado por futebol a exibições de gala. Foram tantas vezes, confesso, que deixei até de assistir a partidas do próprio Fluminense para ver as peripécias dos discípulos de Pelé.

E foi aí que morou o problema: o tempo passou, o mundo mudou e o Santos deixou de ser aquele time "maluco" de Dorival Júnior, de Neymar, Ganso, Robinho e André. Passou a ser o time "certinho" de Muricy, adepto do "Muricybol", dependente da inspiração de Neymar e órfão da genialidade, que espero não ter sido instantânea, de Ganso. Metamorfose que não foi capaz de extinguir as comparações. Que conseguiram a façanha de sobreviver após a surra sofrida frente ao próprio Barça, em dezembro. Pelo menos é o que sugere a declaração de Neymar ao final do confronto: "Nem sempre a gente vai conseguir ganhar todos os campeonatos. É como o Barcelona, que saiu da Champions. Só um pode passar".

Ok, é essencial, para não parecer média ou hipocrisia, dizer que o estilo de futebol aplicado pelo Corinthians não é o dos meus sonhos. Não é. Previsível, em se tratando de um romântico dos gramados. No entanto, é preciso ter um cuidado imenso. Nem tudo que reluz é ouro. Atrás desses óculos também bate um coração. Não esqueça, o Corinthians não é o Chelsea. Até porque o Santos está longe de ser o Barcelona.

Abraço!