Assim eles não me causariam desilusão.


Embora a ideia central careça de embasamento teórico, legal ou coisa assim, peço ao leitor o favor de levar o texto a sério. Embora de novo faça uso da conjunção concessiva para ressaltar que se o futebol brasileiro levasse a sério, diriam os homens de negócio, os seus principais stakeholders, o texto gozaria do maior embasamento teórico, legal ou coisa assim do universo esportivo: a palavra do torcedor.

Enfim, em resumo, e o que quero dizer que não quero que você pense é que essas linhas foram escritas ainda sob ação das loiras geladas dos últimos quatro dias ou saíram como mero efeito das cinzas da ressaca típica da quarta-feira pós-folia carnavalesca. Quando afirmo que os grandes ídolos da História do futebol brasileiro deveriam ser proibidos de exercer cargos administrativos em clubes, federações, comitês, times de várzea, câmaras de deputados ou o raio que os parta, o papo é reto, sóbrio, sério, desprovido de quaisquer alegorias ou adereços.

Começo então a defender a tese lembrando do ídolo máximo que já se viu em ação nos gramados pentacampeões: o Rei Pelé. O Rei Pelé, não é novidade para ninguém, é a fantasia utilizada por um homem comum, mortal, que erra e defeca feito todos nós, chamado Édson Arantes do Nascimento, para simbolizar toda a sorte de maravilhosos enredos de futebol-arte que protagonizou durante sua brilhante carreira de Atleta do Século. E é aí que está o primeiro detalhe importante de minha propositura que, creio, você acha um tanto parecida a um enorme papo entre bêbados: sempre foi possível separar Pelé de Édson, por mais besteiras que Édson falasse e ainda fale.

Talvez porque, agora a definição vem do filósofo Ronaldinho Gaúcho, Pelé simplesmente é Pelé. Talvez, também, porque Édson, a identidade nada secreta às vezes trapalhona, nunca esteve ligado formalmente a nada - clubes, federações, comitês, times de várzea, câmaras de deputados, etc - que pudesse transformar suas frases de efeito catastrófico em algo muito maior que motivos de piadas.

O que já não acontece com outros de nossos ídolos futebolísticos. Cujas ligações perigosas diretas com o sórdido submundo do esporte e da política me fazem desacreditar de quem tantas vezes me proporcionou alegrias com dribles, arrancadas e gols geniais.

É triste ver um Bebeto, o da eterna comemoração contra a Holanda, servir de marionete da cartolagem.

É deprimente ver um Ronaldo, exemplo de superação, se comportar feito um alienado em relação aos problemas do Estado.

É preocupante saber que Neymar, o último dos moicanos, segue pelo mesmo caminho da submissão cega ao patrão.

Claro, há, houve, virá gente séria. Um Sócrates, rico de boas ideias. Um Zico, uma pena, escorraçado do meio por gente sem pinta de honesta. Um Raí, de trabalho reconhecido em terras distantes desta.

Andorinhas poucas que, infelizmente, nem mesmo juntas conseguiriam fazer verão. Pois que, por isso, deixem os meus craques apenas nos museus e filmes da televisão. Longe dos gabinetes, escritórios e plenários. Assim eles não me causariam nenhuma desilusão.

Abraço!