Só falta a bola ser quadrada...

Sem condições...

Nas divisões de base de qualquer esporte, o importante não deveria ser competir. Nem vencer. Sim, formar, desenvolver.

Formar cidadãos conscientes e responsáveis. Depois, desenvolver naquela minoria que seguirá em frente os fundamentos técnicos e táticos de uma determinada modalidade.

Dos aspectos afetivos relativos à pobreza do trabalho que é realizado no futebol brasileiro junto as meninos nós já falamos bastante nesse espaço. Em textos feito o intitulado "Onde estará nosso Gabriel Gutierrez?", cobramos a realização no Brasil de programas semelhantes ao coordenado pelo psicólogo Gabriel Gutierrez, braço direito de Oscar Tabárez, treinador do Uruguai, para quem a construção do caráter do indivíduo está acima dos interesses puramente esportivos ou financeiros.

Tive a oportunidade de assistir aos dois jogos que o Fluminense realizou na Copa São Paulo de juniores até aqui. E deles aproveito o link para, pela primeira vez, abordar a questão da lapidação do talento natural do boleiro nacional em sua outra vertente, aquela ligada ao jogo propriamente dito. Melhor, aproveito o link para abordar a falta de cuidado quanto à questão da lapidação do boleiro nacional em sua outra vertente, a ligada ao jogo propriamente dito.

Para começar, é impossível imaginar que poderia render algo pelo menos próximo do satisfatório um menino de seus 16 anos, após uma viagem de mais de 43 horas para cruzar o Brasil. E o confronto contra o Ji-Paraná-RO, que já seria desigual em situações normais dada a diferença na estrutura dos clubes, tornou-se uma tremenda de uma covardia. E se exigir investimentos igualitários no esporte em todo o país não passa de utopia, à organizadora do evento - ou então a própria CBF, nadando em dinheiro -, que insiste em inchar a competição, não custaria proporcionar os meios para que esses rapazes pudessem chegar ao sudeste com no mínimo de suas condições físicas antes da estreia.

No entanto, a discussão sobre o número de participantes da Copinha e sua eventual qualidade - ou falta de - é por demais ampla. Fica para depois. Hoje, gostaria de me deter em um dos pontos essenciais para o bom desenvolvimento de um time de futebol, mas que no Brasil, inclusive no torneio dos guris, é solenemente ignorado: o estado dos gramados.

Uma das principais lições aprendidas com a melhor equipe da atualidade, o multicampeão Barcelona, é que um trabalho de padronização de um estilo de atuar envolvente ainda nas categorias de base pode render bons frutos. Mas, convenhamos, sugerir ou supor a implementação do admirado estilo "toca aqui, recebe ali" do Barça por essas bandas é tremenda perda de tempo. Pois como tocar aqui, receber ali, em campos mais parecidos com pastos e pântanos?

Faz uns três, quatro dias assisti a uma reportagem sobre a vida do menino Lucas Piazzon ex-São Paulo, hoje no Chelsea - em Londres. Não bastasse a bela vista que desfruta de seu apartamento na capital inglesa, Lucas conta com a ótima estrutura do clube e pode exercer sua profissão em gramados mais parecidos com tapetes.

Vez por outra, criticamos a opção dos atletas que partem para o estrangeiro muito novos, antes da maioridade, em algumas ocasiões. Porém, ao término do programa, fiquei a me perguntar o que eu faria se fosse um jogador de potencial e tivesse proposta dos Blues. A conclusão? Sei não...eu acho que iria é embora. Porque, entre outras vantagens da Europa, no Brasil, daqui a pouco, a bola vai ser quadrada. É só o que falta...

Abraço!