A culpa não é do Bangu.

A arte de viver da fé, só não se sabe fé em que...
Parece castigo divino: toda vez que nos empolgamos com o anúncio de algum índice que supostamente coloca o Brasil no primeiro mundo, logo depois vêm uma tragédia que nos coloca no nosso devido lugar. Seja ela uma chuva de verão que destrói duas, três cidades de uma vez só, ou o desabamento de prédios, que mostram o quanto a infraestrutura de nossas regiões habitadas ainda é precária. Afora outras mazelas do cotidiano, como a péssima distribuição de renda, a horrenda qualidade do ensino por aqui, as "cracolândias" da vida, e outras coisitas mais para as quais nós, os tais formadores de opinião, que só formamos opinião, mas não agimos em nada para modificar a realidade, fazemos questão de fechar os olhos.

E você, amigo leitor, fica tranquilo: não esqueci, pelo menos por enquanto, que o objetivo desse espaço não é discutir geografia, seja física ou humana, política, economia ou qualquer área afim. O negócio ainda é discutir esporte, sobretudo o futebol, feito acontece já há quase quatro anos.

Tá vendo? Garanto que da linha anterior para a de agora tu sentiste um alívio porque, finalmente, o blogueiro começaria a falar sobre o Fluminense, o Flamengo, o Vasco, o Corinthians, não sobre desemprego, moradores de rua, drogas, enchentes ou uma daquelas encheções de saco nas quais nós, os formadores de opinião, que só formamos opinião, mas não agimos em nada para modificar a realidade, prestamos atenção apenas quando a tragédia é da grande.

Mas, enfim, me deixa explicar o que está acontecendo, porque, se o companheiro teve paciência de chegar até aqui, já deve tê-la perdido para lá da metade.

O fato é que os campeonatos estaduais têm apanhado mais que boi ladrão. E, como consequência, têm apanhado junto os chamados clubes pequenos; O Bangu, o Olaria, o XV de Piracicaba, o Tupi de Juiz de Fora, e todos os outros, que para a tal mídia especializada, não possuem mais espaço no novo futebol, o futebol de negócios, essa merda, desculpem não aguentei, que está aí.

Como se o Bangu, o Olaria, o XV de Piracicaba e o Tupi tivessem culpa pelos públicos baixíssimos das primeiras rodadas.

Como se o Campeonato Brasileiro, o ideal, lotasse os estádios a cada semana.

Mas, vamos aos fatos. Digo, aos números. Porque hoje é chic escrever textos com base em números, embora, além de frios, os números adorem uma manipulação.

Em 2011, a renda per capita do brasileiro foi em torno de 10.000 dólares, o que dá, nos valores do câmbio da data, algo em torno de 17.500 reais anuais, 1500 reais mensais. Isso quer dizer que, em uma análise totalmente desprovida de senso crítico, cada cidadão do país faturou essa quantia no ano passado.

Uma mentira deslavada, descoberta com um pouquinho de boa vontade, seja atrávés de estatísticas feito o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) - o do Brasil permanece uma merda, desculpem, não aguentei de novo - ou com uma simples voltinha em qualquer cidade de norte a sul, com os olhos bem abertos para a quantidade de miseráveis que, abandonados, transitam pelas ruas.

Mas, ok. Finjamos que o mundo é perfeito é todas as pessoas são felizes com seus 1500 reais.

Com esses 1.500 reais o cara tem que se virar para pagar uma escola particular para o filho, porque as escolas públicas, a maioria, são fracas.

Com esses 1.500 reais o cara tem que se virar e pagar um plano de saúde para a família, se não quiser correr o risco de ver a família morrer nas filas dos deprimentes hospitais públicos.

Com esses 1500 reais o cara tem que morar, comer, beber, vestir, sobreviver, pagar IPVA e pedágio para andar em uma merda, desculpa, tá foda, de estrada melhor.

E como é que, com esses 1500 reais, o cara vai ao estádio quarta e domingo com esses preços absurdos dos ingressos?

O dia em que alguém me responder, juro que coloco a culpa no Bangu.

Ah, sim, há a elitização do esporte, feito vem acontecendo. Assunto sobre o qual conversamos antes, podemos conversar outra hora, o texto está grande demais.

Mas, cá entre nós, já imaginou um Fla X Flu com aquela torcida de Copa de Mundo?

Chato, né?

Abraço!