Não tem graça nenhuma.

Caso Mário Fernandes

Sei lá, viu. Devo ser mesmo muito mal-humorado, ranzinza, ignorante ou coisa do gênero. Do jeitinho que algumas críticas que recebo sugerem. Mas deixa quieto. Porque se o conceito de mal-humorado, ranzinza, ignorante ou coisa do gênero estiver relacionado ao fato de não achar graça em palhaçadinhas feito os #MarioFernandesfacts, então assumo ser o maior mal-humorado, ranzinza, ignorante ou coisa do gênero da face da terra.

Elenca aí, não necessariamente em ordem cronológica, alfabética ou o raio que o parta. Jóbson, Adriano, Henrique, Dalton, Oscar, Robinho, Bruno e por aí vai. Montaríamos uns dois, três times de garotos-problema do futebol brasileiro. E como é que tem gente que consegue achar graça de conseguirmos montar uns dois, três times de garotos-problema no futebol pentacampeão?

E o pior é ter que engolir, em tema tão extenso e importante, o papo pseudopatriótico e tosco daqueles que dizem que é um absurdo um jogador em início de carreira se "recusar a servir sua pátria". Não, não, negativo. O grande absurdo na questão não reside no fato de servir ou não à Seleção. De recusar ou não a Seleção. Seleção, aliás, que para muitos dos críticos do rapaz não é nem brasileira, mas da CBF. O X da questão é mais amplo. Encontra-se na capacidade desses guris de se meterem em confusão e afundar suas vidas no ralo e na incapacidade do futebol brasileiro em formar algo além de boleiros.

E caberia levarmos o debate para além dos gramados. Pois há garotos-problema por toda parte, em toda esquina. Jovens que por falta  de orientação atiram suas trajetórias no lixo. No entanto, nos atenhamos apenas aos vestiários. E não adianta espernear ou crucificar. Enquanto aqueles que vivem do futebol prosseguirem a se esconder do sol com a peneira, os dramas ainda surgirão.


É preciso começar de baixo, na base, quem sabe, na própria família. Tal qual afirma Gabriel Gutierrez, um dos responsáveis pela revolução no futebol uruguaio,
"falar com os pais é fundamental, mas creio que as instituições esportivas tem que divulgar essas cifras, que são duras, e estabelecer políticas, nas quais, quem está participando do processo esportivo não abandone os estudos, que consolidem sua personalidade."

Responsabilidade da qual se eximiu, por exemplo, Mano Menezes ao, do alto de sua arrogância, superficializar o tratamento dispensado ao caso.

Agora, entendo se o amigo leitor já estiver cansado e quiser parar por aqui, mas  gostaria de finalizar, acrescentando um outro viés ao texto, fazendo aquilo que deveríamos fazer sempre: levar em consideração a palavra do protagonista.

Mario revelou ter sido um eventual estresse o causador do seu ato. E logo apareceram os sabichões a cornetar, alegando que quem recebe 80 mil dinheiros por mês não pode ter esse tipo de problema.

É, a gente não aprende. Há dois anos foi Enke. Há semanas, Ricardo Gomes. Há dias, Breno. Também há dias, Ralf Rangnik, treinador do Schalke que deixou o cargo por conta de estafa mental.

E prosseguimos "cruelmente duros e impacientes com os esportistas de sucesso. Graças a seus altos salários e à vida boa que presumimos que levam, exigimos deles o mais alto nível de desempenho sempre. Esquecemos se têm desejos, sonhos ou dificuldades. Jamais imaginamos que tenham algum problema de saúde na família, ou que, às vezes, se sintam solitários. A aura de glamour que os envolve, os torna seres superiores aos nossos olhos. Se reclamam da condição de trabalho, do assédio da imprensa ou do que quer que seja, logo gritamos."

Claro, não pense, por Deus, que estou defendendo ou justificando irresponsabilidade. Não é isso. Errou, tem que pagar pelos atos. Mas está óbvio, escancarado.  Esses meninos não são assunto de Twitter. Mas deveriam ser de escolas, lares e consultórios. Pelo menos, enquanto é tempo...

Abraço!