Ricardo Gomes.


Eu assistia ao jogo apenas de relance.

A semana fora dura, com aula da pós-graduação sábado o dia inteiro para completar a festa. Aproveitava o domingão para tomar uma cervejinha e descansar, deitado em um colchonete estrategicamente colocado na sala. De futebol, já bastava a derrota do Fluminense no clássico contra o Botafogo e a surra que o Arsenal, clube inglês de minha simpatia, tomara do Manchester United. Para mim, o sofrimento futebolístico até ali parecia mais que o suficiente para esgotar a cota de um único final de semana. Porém, mal desconfiava que o verdadeiro sofrimento, infelizmente, não apenas futebolístico, ainda estava por vir.

Não fazia a mínima ideia de quantos minutos tinham decorrido. Só depois, olhando nos sites, descobri que eram vinte e três da segunda etapa. E o tempo é mesmo relativo, meus amigos. Porque se os muitos minutos de partida jogados desde o seu começo passaram voando, os momentos posteriores ao instante em que olhei para a TV e vi o desespero reinante no banco de reservas do Vasco foram, quase sadicamente, demorados.

E minha primeira reação foi a de querer interromper a peleja, como se autoridade para isso tivesse. No Twitter, implorava e, desculpem aqueles que acompanharam, xingava para que a paralisação ocorresse. Revolta que aumentou sobremaneira ao perceber o engajamento do quarto e do quinto(?) árbitro em impedir que o atacante Alecsandro, àquela altura, acho, substituído, passasse orientações ou informações aos seus companheiros. "Ora, como é que os caras podem se preocupar com besteiras em uma hora dessas?", berrei.

Mas a revolta no microblog não parava ali. Porque se constituem interessantes ferramentas de comunicação, as redes sociais também são poços e potencializadores de imbecilidades. Me digam, por favor, que raios está acontecendo com as pessoas? Como é que alguém pode criar piadinhas ou colocar a, às vezes, maldita rivalidade clubística acima da vida humana? E diga-se de passagem, nesse caso, as palhaçadas não ficaram restritas a pessoas físicas. Inclusive um site da moda, que se diz de humor, foi capaz de tentar bancar o engraçadinho brincando com o drama de Ricardo e do Doutor Sócrates.

E é aí que chego na parte mais díficil, porém, da mesma forma, mais fácil do texto: falar de Ricardo Gomes. E, tenho convicção, para enriquecer o conteúdo, nem ao menos preciso citar a importância do treinador na História do meu time do coração. Como bem escreveu José Ilan, o ex-zagueiro, por seu jeito centrado, correto e educado, se coloca acima disso. Garanto, a não ser pela meia dúzia de imbecis do parágrafo anterior, há hoje, além de tricolores e vascaínos, botafoguenses, flamenguistas, corinthianos e palmeirenses consternados com a dramaticidade da situação.

Mas é justamente nesse aspecto que reside minha dor no digitar as linhas da segunda-feira, dia vinte e nove de agosto. Ricardo Gomes é a antítese do mundo do futebol ou, se preferir, do mundo do esporte ou, não seria exagero afirmar, da sociedade em que vivemos. Em dias onde o evento mais comentado do país destacou-se por um show de brutalidade e estupidez, onde houve baleados antes de um aguardado clássico e onde jogadores de futebol, aqueles que deveriam transmitir o exemplo, ficam a bater boca por motivos banais, as cenas do Engenhão chegam com o poder de um potente tapa na cara.

Por fim, é de praxe, costumo ilustrar meus posts diários com fotos ou vídeos relacionados ao assunto. Entretanto, pela segunda vez, peço desculpas aos amigos. E principalmente ao Douglas, por sair da template do blog. Todavia, hoje, não posso e não preciso recorrer a tal expediente. Não posso porque temo cair em um recurso apelativo. Não preciso porque as imagens de ontem são do tipo que não saem da nossa memória. Nunca.

Força, Ricardo Gomes!