Brasil, 03 de agosto de 2011.
De: um humilde torcedor brasileiro, que nem santista é.
Para: o senhor colunista do jornal Marca, Amalio Moratalla.
Assunto: vocês sabem o que é o Santos?
Caro Amalio Moratalla, tudo bem?
Antes de mais nada, gostaria de me apresentar. Meu nome é Roberto Junior, torcedor do Fluminense, mas, acima de tudo, apaixonado por futebol bem jogado e um grande entusiasta do Santos dos meninos Neymar e Paulo Henrique Ganso. Além disso, acho importante também informar que aprecio bastante o futebol europeu e vibro com o atual estágio do esporte em sua seu país, embora confesse que em terras espanholas minha admiração recai principalmente sobre o Barcelona. Aliás, talvez, o maior responsável pelo sucesso de seus compatriotas nos gramados. Mas, sem outras delongas, vamos ao assunto deste e-mail.
Hoje, por volta das 13 horas, horário de Brasília, ao navegar pelo site oficial de seu empregador, me deparei com um artigo de sua autoria, entitulado "Neymar não sabe o que é o Real Madrid", que me chamou a atenção por alguns trechos de seu conteúdo, recheado de doses de arrogância aliadas a pitadas de desinformação.
Começo, então, pelo título. Ora, meu caro, garanto que tanto Neymar, quanto qualquer outro garoto brasileiro da idade dele, sabe bem o que é o Real Madrid. Sabe por que? Porque aqui, infelizmente, graças à desorganização do nosso futebol, perdemos ano a ano nossos principais jogadores para vocês, que agem como verdadeiros predadores e aliciadores de boleiros. Claro, a culpa é nossa, quer dizer, de nossos dirigentes. Mas o senhor não sabe como é chato ver nossa geração Playstation crescer curtindo o Manchester ao invés do Flamengo ou twittando seu Real ao invés do São Paulo.
Já no primeiro parágrafo, o senhor faz uma comparação interessante. Minto, o senhor afirma não haver comparação entre as possíveis transferências de Fábregas, que ainda não acertou com o Barcelona por pendências financeiras, e a da jovem joia santista, concluindo, linhas depois, não enxergar onde está o problema para que ela aconteça. Certo?
Bom, para explicar sua desilusão existem vários argumentos e um direito. Poderíamos enfocar a questão salarial. Sim, Neymar ganhará no quintal de casa quase o mesmo que o Real lhe pagaria. Obrigatoriamente, precisamos passar pela questão física e do estilo de jogo, que não lhe garantiriam a titularidade em um time recheado de estrelas. Sem contar, a sagrada prerrogativa do ser humano de dizer "não" àquilo que não quer. Afora a possibilidade que o menino possui de vislumbrar atingir um status semelhante ao de grandes ídolos de seu país.
Ok, compreendo a ansiedade, o ceticismo e o angustiante sentimento de incerteza que o senhor revela em seu penúltimo parágrafo. Mas aí, perdoe, acho bem-feito. Talvez assim vocês compreendam como ficam os torcedores brasileiros quando vêem seus melhores valores partir precocemente. Diz um velho ditado daqui, camarada, que "nos olhos dos outros é refresco".
Ah, e por fim, gostaria de fazer uma humilde ressalva. Claro, concordo quando o senhor pede que "Neymar si, pero no a cualquer preço". Nenhum jogador está acima de um clube, seja ele qual for. Quem dirá do "maior do século XX", o Real Madrid. E agradeço de coração, em nome dos santistas, pela consideração de colocar o time da eterna Vila Belmiro no patamar merengue. Mas, espera lá, não tá errado não? Afinal de contas, parceiro, qual é o país pentacampeão do mundo?
Estou vendo que o amigo Amalio, na verdade, "no sabe lo que és el Peixe"...
Respeitosamente,
Roberto Junior