Olá meus caros,
Para iniciarmos a nova série Lembra desse?, nada mais justo que homenagear o nosso anjo das pernas tortas, nosso sempre querido Garrincha. E como descrever um ídolo de gerações, não é lá uma das tarefas mais fáceis, deixo aqui a peróla escrita por Nelson Rodrigues sobre Garrincha.
Garrincha, o anjo de pernas tortas
Vocês se lembram de Charles Claplin, em Luzes da Ribalta, fazendo número das pulgas adestradas?
Pois bem, Mané deu-nos um alto momento chaplinhano.
E o efeito foi uma bomba.
Na primeira bola que recebeu já o povo começou a rir.
Aí é que está o milagre.
O povo ria antes da jogada, da graça, da pirueta.
Ria adivinhando que Garrincha ia fazer a sua grande área como na ópera.
Como se sabe só o jogador medíocre faz futebol de primeira.
O craque, o virtuoso, o estilista prende a bola.
Sim, ele cultiva a bola como uma orquídea de luxo.
Foi uma das jogadas mais histriônicas de toda a vida de Mané.
Primeiro pulou por cima da bola.
Fez que ia, mas não foi.
Pula pra lá, pra cá.
Com a delirante agilidade de 58.
Lá estava a bola imóvel, impassível, submissa ao gênio.
E garrincha só faltou plantar bananeiras.
Esse rapaz da raiz da serra compensou-nos de todas as nossas humilhações pessoais e coletivas.
Vocês sabem que do nosso lábio sempre pendeu a baba elásticas e bobina da humildade.
De 58 a 62, o mais indigente dos brasileiros pode tecer a sua fantasia de onipotência.
E por tudo isso, as multidões – sem que ninguém pedisse ou sem que ninguém lembrasse –, as massas derrubaram os portões e oferecerem a Mané Garrincha uma festa de amor como não houve igual nunca, assim na terra como no céu.
Garrincha, a alegria do povo! Parte 1
Garrincha, a alegria do povo! Parte 2
