Futebol, esporte de rico.



Hoje, vamos fazer umas continhas. Segue aí.

Segundo a pesquisa Lance!-Ibope, de 2010, o Fluminense possui 3,1 milhões de torcedores. Sendo que, desse total, 1,9%, cerca de 41.600 tricolores estão situados na camada mais pobre da população brasileira, aquela cuja renda mensal é de até um salário mínimo.

Ah, é bom dizer, vou trabalhar com o Flu por mera questão de paixão clubística. Mas seja qual for o seu time do coração as conclusões são tão ou mais preocupantes. Vale a pena conferir. Pois, prossigamos.

De acordo com a própria CBF, apenas quatro jogos do atual campeão brasileiro serão transmitidos em TV aberta, no primeiro-turno do Campeonato Brasileiro de 2011. Então, recapitula. Aquele 1,9% de apaixonados tricolores ali de cima só terá a oportunidade de ver sua paixão em campo em míseros 360 minutos. Fato consumado pelo preço absurdo dos ingressos, que afastará dos estádios esse cidadão que luta pra sobreviver.



E olha que eu poderia ter incluído nessa matemática perversa um número bem maior de excluídos. Porque, além desses 41.600, há os que percebem mensalmente mais de um salário, no entanto ainda se enquadram na faixa daqueles que não reúnem condições de pagar uma TV por assinatura. Vamos chutar? Bom, digamos que existam, por baixo, 200.000 aficcionados pelo Reino do Laranjal nessa situação. Repara, em uma torcida considerada elitizada nós teríamos absurdos 241.600 indivíduos sem a menor possibilidade de acompanhar sua paixão de perto.

Mas, não para por aí. Transporte esse número para um universo de dimensões mais polpudas, onde você tem um número bem maior de torcedores,ou então, para um cenário onde a massa seja concentrada em regiões de poder aquisitivo menor. Calcula, por exemplo, quantos são-paulinos ficarão a ver navios graças às retaliações do "sistema" sobre o clube do Morumbi,  presenteado com meras cinco transmissões.

E, como exposto anteriormente, a simulação pode ser feita pra um sem número de agremiações. Pra finalizar, pega o exemplo dos Atléticos, o Mineiro e o Paranaense. Enquanto o primeiro contará com apenas 3 partidas "ao vivo", o outro, pasmem, estará em sinal aberto uma única vez em 19 jogos, número menor que o de todos os recém-promovidos à série A.

Claro, é legítimo que a empresa queira transmitir os jogos dos times de maior torcida e visibilidade. Porém, tão desigual divisão, gerada ou por represálias a alguns, ou por simples objetivo comercial, criou uma enorme legião de alijados futebolísticos. Fenômeno semelhante ao que já ocorre diariamente em relação a escolas, hospitais e diversas outras óbices encontradas no país. Por que, então, não permitir que outra emissora passe uma partida diferente da "principal' da rodada?

Mas, pra finalizar, preciso revelar o porquê desse texto. Tenho acompanhado com certo ar de espanto o crescimento no número de brasileiros que torcem pra times estrangeiros, sobretudo os ingleses. E quando digo torcer, não é ter simpatia, como a que tenho pelo Arsenal, pelo Milan ou pelo Barcelona. É ser única e exclusivamente Chelsea, por exemplo. Lógico, não vai aqui nenhuma crítica a esses caras. Mesmo porque tudo é pura consequência do caminho sem volta da globalização.

Todavia, fica a pergunta: até que ponto o próprio futebol brasileiro, de modo geral, não colabora pra esse processo de degeneração do produto nacional?

E pra ficarmos só na questão das televisões, pensa: enquanto você assiste a 4 jogos do Fluminense em 3 meses, quantas vezes vê o Manchester United desfilar na sua telinha?

Pode parecer balela ou uma visão pessimista em demasia, mas daqui a alguns anos, cinco, cinquenta, ou quinhentos, não duvido que os Red Devils tenham por aqui torcida comparável à de um monte de clube grande.

Pois, como dizem lá onde trabalho, quem não é visto, não é lembrado...

Abraço!