Como Falcão moldou Oscar, seu aprendiz


Bahia de Falcão x Inter. Não que seja um clássico, mas um jogo que envolva Falcão, ídolo do Inter e ex-treinador do colorado, merece atenções redobradas.

Por fim, mas nem por isso menos glorioso, Grêmio x Atlético Mineiro de Ronaldinho. Novamente Ronaldo voltou a sua “casa”, se é que ainda possa chamar assim. Desta vez o camisa 10, digo, 49, saiu vitorioso e calou cerca de 35 mil almas que o vaiavam veementemente.



O grande material e tino para esta matéria deve-se ao jornal Zero Hora que publicou, neste domingo, entrevista com Paulo Roberto Falcão. Entre muitas perguntas e respostas uma me chamou atenção. O caso Falcão e Oscar.

Este analista imaginava que ambos eram inimigos ou algo no mínimo semelhantes, pois Falcão teimava em não escalar Oscar. Após entrevista aos repórteres Alexandre Ernst e Jones Lopes, tudo ficou claro. Falcão não queria barrar Oscar, muito pelo contrario, tinha como intenção aprimorar e lapidar o diamante bruto que tinha em mãos.

Vamos ao fato que me chamou atenção:

ZH – Mas, vejamos: o Oscar, por exemplo, estava comelando durante seu período.
Falcão – Vou revelar uma coisa: o dia em que fui demitido, recebi um torpedo do Oscar. Ele ia para a seleção, no Rio. Dizia: “Pô, eu fiquei sabendo é verdade?”. Foi uma surpresa geral, inclusive para ele. O Oscar é um guri fantástico, porque ele quer aprender.

Ele disse: “Professor, o que o senhor acha que eu tenha que fazer para melhorar?” Sentamos e conversamos.

Como ele não tinha um físico avantajado, recomendei que trabalhasse o drible um pouco mais longe do adversário. Também trabalhamos a batida na bola. Ele também aprendeu a marcar, para liberar mais o D’Alessandro de tanta responsabilidade (em marcar). Então, é o respeito ao trabalho. Ali Oscar estava falando com o treinador dele, não apenas com o meu passado como jogador.

Reparem a leitura de Oscar. Ele vai de encontro ao treinador e pede conselhos para que possa melhorar seu futebol. Falcão atende ao pedido e transforma Oscar em um meia multifunções.

Com D’Alessandro no time a marcação fica devendo, portanto, Oscar recuava para dar combate mais atrás. Não bastasse isto, Oscar não ficou preso apenas a uma posição em campo. O garoto é meia central de origem, mas já atuou como volante no losango pelo Inter, Seleção de base e Seleção principal. Passando por estes mesmos “estágios”, Oscar, atuou como winger tanto pela esquerda, quanto pela direita e até atacante para pressionar mais a frente o adversário.

Outro fato. Falcão ao notar o biótipo do franzino meia, o fez passar por um reforço muscular. Sabiamente, pois as novas tarefas de Oscar, obrigatoriamente, requeriam força física, pois o combate era mais do que certo.

Mesmo com reforço muscular Oscar não se tornou um Hulk, longe disso. O reforço foi específico e em curto prazo. Com valências físicas mantidas e aprimoradas, Oscar passou a utilizar ainda mais o drible longo e fugir do combate direto com defensores.

O chute.

Falcão dominava esta habilidade e passou da melhor maneira para o garoto. O camisa 16 colorado passou a ser um belo finalizador de media e longa distancia, afinal, quem arrisca não petisca.

Imaginem se, por exemplo, Ganso tivesse esta humildade em vir procurar seu treinador para conversar, aprender e melhorar seu estilo de jogo. Por outro lado, o treinador precisa ter capacidade para ler o jogo e aconselhar da melhor maneira possível um “novo” estilo de jogo ao seu atleta. De nada adianta aconselhar sem embasamento algum.

Neste caso especifico de Oscar, Falcão reinou no meio campo. Passou por diversas posições e soube indicar a seu pupilo onde renderia melhor. Oscar não deveria ser uma exceção, mas apenas mais um.

Falando em Falcão, devo fazer uma ressalva ao treinador. Mesmo estando no Brasil o treinador esta sempre atento ao futebol internacional e usa de seu nome para estágios com os melhores coach’s do mundo.

Momento tático:

4-2-3-1 Brasil : Oscar atuando pela seleção principal como meia organizador. Mano definiu marcação adiantada e era Oscar quem comandava. Era o relógio, ele quem dosava quando avançar e fazer blitz no adversário. Alias, por diversas vezes Oscar bateu a carteira do adversário em campo ofensivo e, assim gerando conclusões a gol.

Meia que dita o ritmo. Oscar, ainda na seleção, assumiu a camisa 10 e foi o meia cerebral, quem recua para armar, gira a bola, aparece a frente e ainda auxilia no combate.

Flagrante tático : Oscar atuando centralizado no 4-2-3-1 do Brasil.
4-2-3-1 Inter: Na equipe gaúcha Oscar já foi de tudo, inclusive lateral direito. Porém, devo-me abster a posição mais casual e preferida, não por Oscar, mas por onde Dorival o escala.

Quando D’Alessandro não estava presente, Oscar assumiu a incumbência de fazer o Inter jogar. Tarefa difícil esta, pois D’Alessandro comanda maestriamente o Inter.

Como winger pelos lados do campo Oscar ainda é mais versátil, pois pode jogar lembrando um antigo ponta que vai a linha de fundo e cruza para o centroavante,ou, infiltrar abrindo corredor para lateral. Tabelar com este mesmo lateral que passou. Por final, jogando na esquerda, de pé trocado, verticalizar e finalizar com o pé “bom”.

Flagrante tático : Oscar como winger pela direita no 4-2-3-1 colorado.
4-4-2 losango Inter e seleção: Seja no Inter, seja na seleção, Oscar já atuou desta maneira. Diferente de suas características o meia colorado atuou como volante pelo lado, não se absteve a um só, mas nos dois.

De igual maneira as outras posições, Oscar demonstrou bom futebol nesta posição e não sentiu o peso em marcar e aparecer à frente. O meia lembrou o carrilerro argentino (volante/meia argentino que marca um trilho no campo, vai e volta) ou Box-to-box Ingles (na tradução literal, de área a área). Oscar possui desenvoltura para ir a frente com qualidade e recuar frente a zaga.

Flagrante tático : Oscar como volante/meia pela esquerda no losango brasileiro.

Flagrante tático : Oscar como volante/meia pela direita do losango colorado.

Oscar seria o meia/volante box-to-box, definição de Educardo Ceconi:
“Box-to-box é uma referência ao jogador que faz, no meio-campo central, o "vai-vem". Box significa área, em inglês, portanto a tradução é "de área a área". A definição é claríssima: o jogador que sem a bola posiciona-se defensivamente à frente da própria área, e quando a equipe recupera a bola aproxima-se dos atacantes, nos arredores da área adversária. Atuar nos dois campos é prerrogativa básica desta tática individual.”.

Para descrever Oscar, faço das palavras de André Rocha do blog Olho Tático as minhas:
“Oscar pode ser adaptado como um autêntico meia central, marcando e jogando como Schweinsteiger, Xavi, Yaya Touré – sem comparações técnicas, obviamente. O jovem meio-campista já cumpriu função semelhante na seleção brasileira sub-20 no Mundial do ano passado. Guiñazu completaria o setor, mas não como um volante essencialmente marcador, saindo também para o apoio, revezando com Oscar. Assim como Nei e Kléber nas laterais”.

Intercambio na Europa

“Isso foi depois que saí do Inter. Tive grandes conversas com Cesare Prandelli (treinador da Itália), que me deixa muito feliz por que ele está na final (da Euro copa). Não é à toa, ele é muito competente, depois conversei com o (José) Mourinho e o pessoal do Real Madrid. Foi um intercambio, para passar comoa gente trabalhava e como é que eles trabalham, fazer uma comparação, trocar ideias, esse foi o objetivo”. Declarou Falcão.

É inadmissível fechar os olhos para o que acontece alem de nossos limites territoriais. Falcão demonstra estar atento ao futebol internacional.

Esta demonstração entre Oscar e ele (Falcão), prova o quão capacitado é este treinador.