Análise de Elenco - Palmeiras

Entrando na reta final da seção "Análise de Elenco", chegou o momento de discutirmos um dos clubes mais tradicionais do Brasil. Octacampeão nacional, o Palmeiras não vence o Brasileirão desde o bicampeonato em 93-94. Nos últimos anos, afundado em crises políticas e em atrito constante com a torcida, o Verdão tem sofrido para emplacar resultados expressivos.

Para apagar a imagem de "cavalo paraguaio" e cansado do papel de coadjuvante que vem exercendo, o Verdão apresentou alguma melhora esta temporada. No amistoso contra o Ajax fiquei com a impressão de que o time dificilmente emplacaria. Contudo, o que se viu foi uma melhora significativa promovida pela chegada de reforços pontuais e um bom trabalho de Scolari na compactação da equipe.

Ainda que a impressionante marca de 22 partidas de invencibilidade tenha sido quebrada justamente no clássico contra o Corinthians, única partida na qual a equipe realmente sofreu um apagão, o Verdão correspondeu bem nos confrontos contra São Paulo e Santos.

Embora tenha caído de produção e sucumbido perante o bem organizado Guarani no Paulistão, o Verdão está bem vivo na Copa do Brasil e encara o Atlético-PR nessas quartas-de-final. Bom, sem mais ladainhas, aí vem o Palmeiras:

Obs: Como é possível notar, esse post foi elaborado pouco antes da lista de dispensas. Embora seis jogadores tenham saído e três chegado, a estrutura desta análise não ficou de todo comprometida. A qualidade dentre os que saíram e chegaram são, num primeiro momento, equivalentes. E, por acreditar que o time tem qualidade - embora o elenco nem tanto - mantenho o palpite previsto.

GOLEIROS - Bruno, Deola, Pegorari, Raphael Alemão, Fábio - A escola palmeirense de goleiros é sensacional. Não me recordo de olhar para o gol verde e achar o arqueiro médio. Com a aposentadoria de Marcos, Deola segue na titularidade. Não tem a mesma estrela do ídolo eterno, mas está acima da média nacional. Bons reflexos, boa saída de gol, Deola falha muito pouco e não transmite insegurança sob as traves. Bruno é um bom reserva. Contudo, nunca conseguiu uma boa sequência de jogos para se firmar. Atrás de Marcos e Deola, Bruno até foi emprestado para a Lusa ano passado, mas não atuou pelo clube do Canindé. Assim, pela notória falta de ritmo, cria-se certa desconfiança natural. Quanto aos garotos, destaca-se Raphael Alemão, tido como próxima grande promessa para o gol palestrino.

LATERAIS - Cicinho, Artur, Juninho, Gerley, Fernandinho - Muito bons! Cicinho apoia, passa e distribui o jogo com a qualidade de um meia-direita, embora seja um tanto deficiente na marcação. Artur chegou no clube e deu à Felipão uma melhor alternativa defensiva. Artur mostrou ser perigoso na bola aérea e bom posicionamento. O lado direito está bem servido. Já o esquerdo conta com Juninho, ex-Figueirense, e Gerley não é um bom substituto. Juninho é rápido, habilidoso e participa efetivamente das tramas ofensivas, ora com assistências, ora com gols. Ataca melhor mas não faz feio quando recompõe defensivamente.

ZAGUEIROS - Henrique, Luciano Amaro, Román, Thiago Heleno, Maurício Ramos, Wellington - Estáveis. Com Thiago Heleno afastado por lesão, Leandro Amaro tem sido titular ao lado de Henrique. Foram uma boa dupla, ainda que Leandro Amaro não passe confiança alguma, ao meu ver. Um tanto estabanado, comete alguns erros bobos de posicionamento ou de tempo de bola. Subiu de produção, mas, particularmente, não gosto dele. Henrique é muito bom. Seguro, técnico, bom cabeceio e desarme, é 70% da defesa. Román chegou esta temporada e tem sido opção de banco. Não jogou tanto, prefiro não arriscar dizendo que deve ser, no mínimo, melhor que Amaro. Maurício Ramos eu entendo que seria a melhor opção para a dupla com Henrique. Embora seja mais lento, não deixava a desejar nos desarmes, no posicionamento e até na presença no jogo aéreo.

VOLANTES - Márcio Araújo, Wesley, Marcos Assunção, Chico, João Vitor - À parte a contusão grave que o recém-chegado Wesley, era um bom reforço. Não era tudo isso que a imprensa pintou, porém era um baita reforço para o meio. Marca bem, apoia bem, rápido. Enfim, ficou para o ano que vem. Entendo que Felipão mas milagre com volantes limitados. Márcio Araújo, regular, sobra em disposição física. Corre o campo todo, a partida inteira. Marca bem, mesmo estando longe de ser um grande nome da posição. Chico dificilmente atua. Poderia ser um bom cão-de-guarda. Alto, bom marcador, pode inclusive atuar de 3º zagueiro. É visto com ressalvas. João Vitor subiu muito de produção. É a versão piorada do Wesley e faz algo parecido com o que Márcio Araújo faz, só que pelo lado direito. Marca, distribui, auxilia o ataque. Discreto, joga para o time. Faz o feijão-com-arroz sem encher os olhos. Por fim, o interminável Marcos Assunção. Não tem o vigor físico de outrora. Ou seja, não é mais um marcador exímio ou um apoiador nato. No entanto, posiciona-se muito bem e usa a experiência para ora marcar, ora cadenciar o jogo na meia-cancha palestrina. Passes, lançamentos e, sobretudo, a bola parada fazem de Assunção peça fundamental nesse meio-campo.

MEIAS - Valdívia, Tinga, Pedro Carmona, Patrik, Daniel Carvalho, Felipe - Valdivia, ídolo chileno, joga uma, duas e para. Joga mais algumas e para. Seu retorno ainda é algo emblemático para o palmeirense. Quando joga, mostra o que já se sabe dele. Habilidoso, bom passador, organiza bem o ataque, arrisca alguns chutes. Não faz feio. 100%, é um dos melhores meias do Brasil, com certeza. Daniel Carvalho foi uma grata surpresa. Vindo do Atlético-MG, a ex-promessa do Inter deu nova pitada de qualidade no meio. Apesar da notória limitação física, Daniel Carvalho tem um passe apurado e uma boa visão de jogo. Além de bater na bola com qualidade. Diante das ausências de Valdívia, Carvalho não faz o torcedor sentir-se órfão em campo. Entretanto, não há bons reservas. Entendo que Carmona poderia ser o meia a entrar e mudar uma partida. Rápido, habilidoso...mas tem alguma dificuldade no passe e na conclusão. Patrik se esforça, mas não tem virtudes que igualam Daniel ou Valdívia. Tinga, que ora atua mais recuado, ora mais avançado, perdeu espaço e pode ser negociado.

ATACANTES - Maikon Leite, Ricardo Bueno, Fernandão, Luan, Vinícius, Barcos, Mazinho - Poucas opções de qualidade. Barcos, o Pirata, conquistou a simpatia da torcida durante o Paulistão. Jogador simples, posiciona-se bem e conclui com frieza tanto pelo alto como pelo chão. Além da qualidade na finalização, também faz um bom pivô e boas tabelas em torno da área adversária. Maikon Leite é o homem da velocidade. Rápido, puxa contra-ataques e abre espaços na zaga inimiga. Precisa apurar mais a finalização. Luan, lesionado, era titular pela função tática que desempenhava. Mesmo sendo atacante, recuava para compor o meio e saída em velocidade para o ataque. Sacrificado pela tática imposta pelo treinador, é alvo constante de críticas da torcida por não fazer o básico como atacantes: finalizar com qualidade. Ricardo Bueno e Fernandão são ruins. Fernandão ainda teve um lapso de ídolo quando fez um gol em sua estreia justo contra o Corinthians. Colaborou ao anotar outro contra o Santos. Contudo, as atuações irregulares podem não segurá-lo do grupo. Vinícius, promessa, ainda precisa ser melhor testado.

TÉCNICO - Luiz Felipe Scolari - Felipão já viveu seus melhores dias. Conquistou a América com Grêmio e Palmeiras, e o Mundo ao comandar a Seleção do Pentacampeonato. Depois da ótima passagem pela Seleção Portuguesa, Scolari não foi bem no Chelsea e fez seu pé-de-meia no Usbequistão. Voltou ao Palmeiras e ainda luta para conseguir um bom elenco e fazer o time brigar efetivamente por títulos. É ótimo treinador, no entanto, sofre com a falta de jogadores de qualidade no grupo palestrino. Ao meu ver, dentro da limitação do elenco, Felipão tira leite de pedra e faz um trabalho aceitável. Experiente, motivador, mesmo com a tendência defensiva consegue armar ataques perigosos.

ANÁLISE GERAL - Vejo o Palmeiras com um grande trunfo: Felipão. Apesar do momento instável, Scolari fez o time jogar bem e ser respeitado durante boa parte do Estadual e está mais vivo do que nunca na Copa do Brasil. Defensivamente, o time não é ruim. Entendo que falta um melhor nome para compor a zaga mas, na essência, é segura e regular. Bons laterais. Todavia, para o Brasileirão, creio que faltam melhores opções para a criação ofensiva e para o ataque. Valdívia se lesiona demais, Daniel Carvalho não tem o preparo físico de juvenil. Sem eles, não há quem possa quebrar um galho. Não há substituto à altura. Barcos idem. Enquanto Luan e Maikon Leite podem até, de certo modo, serem equivalentes, não há outro matador como o Pirata.

RESULTADO - O futebol consiste em uma simples lógica: gols. A ausência de peças de melhor qualidade pode custar caro ao Palmeiras. Contudo, Felipão tem conseguido dar compactação ao time. Se emplacar boa regularidade defensiva e aproveitar bem as oportunidades na frente, pode surpreender. Mesmo sem vislumbrar bons reservas, vejo o Palmeiras brigando diretamente por uma vaga na Libertadores dificilmente algo além disso.