Que Neymar não seja o novo Guga.

Neymar e Guga, foto de Neymar e seu filho Davi
Esperava a oportunidade e a maneira correta para tocar no assunto. A ideia era - e ainda é - evitar as reações radicais que permearam o debate quando o técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, afirmou preferir ver o garoto Neymar atuar na Europa a permanecer nos gramados do país.

O fato é que, enfim, o ponto de partida para o texto surgiu ontem, quando ao assistir ao programa Linha de Passe, da ESPN, ouvi o comentarista Paulo Calçade sugerir ao futebol brasileiro que não perca o momento de aparente avanço em alguns aspectos e não se torne um novo "Guga".

Quem é mais velho se lembra bem e os mais novos provavelmente ouviram falar da euforia que tomou conta do tênis nacional durante o período no qual o querido torcedor do Avaí conseguiu destaque no cenário internacional, alcançando, inclusive, o posto de número 1 do mundo.

À época, tornou-se senso comum que a modalidade deveria aproveitar o brilhante momento de Kuerten para se desenvolver. Escolinhas seriam criadas, os atletas receberiam um melhor apoio estrutural e financeiro e, assim, em médio prazo, outros "surfistas do saibro" surgiriam para suceder com qualidade o então alavancador do esporte.

Não preciso detalhar, acho, a onda passou, Guga se aposentou e o tênis não se desenvolveu como imaginavam os futurólogos da ocasião.

Apesar da propalada crise técnica por que passa, o futebol brasileiro não forma talentos acima da média tão raramente quanto outros esportes por aqui. No entanto, com as marés baixas de gente boa da antiga feito Kaká e Ronaldinho Gaúcho, hoje apenas Neymar arranca dos críticos e dos torcedores o título de craque indiscutível.

E tal importância fica escancarada com as reações desesperadas toda vez que alguém é de opinião que seria importante à joia da Vila a experiência europeia para seu crescimento profissional.

No final das contas, Neymar é visto como uma espécie de Guga, em torno do qual o futebol pentacampeão pode construir sua estrada de volta aos velhos e bons tempos.

Todavia, seria essencial que tal comparação se restringisse apenas à imensa capacidade dos dois em suas atividades.

Porque de nada adianta Neymar permanecer por 500 anos no país se certos detalhes importantes não sofrerem pesadas modificações no nosso futebol.

Por exemplo, fora de campo, nem mesmo a saída de Ricardo Teixeira do poder parece capaz de promover a sonhada revisão de conceitos administrativos e despertar nos clubes o desejo de intervirem no processo para contribuir com as melhorias.

Afora que falar sobre cuidados com as categorias de base ou a respeito de outros simples pontos, entre eles as péssimas condições de boa parte dos gramados e o calendário absurdo ainda não passa de doloroso murro na ponta de uma faca bastante afiada.

Tudo isto sem precisar recordar das deficiências que tangem ao jogo propriamente dito. Uma delas, do jeito que lembra o blogueiro Cabral Júnior, o vazio de ideias que toma conta dos nossos "professores", fãs incondicionais dos volantes, das retrancas e de outros males que destruíram o futebol-arte, antes nossa principal característica.

Encarasse sua carreira com foco só em critérios objetivos, talvez Neymar fosse logo embora. Qualquer um iria logo embora. Mas, aí é que está o X da questão:graças ao constante amadurecimento, o último dos moicanos vêm provando não ser um qualquer.

Pois, que o futebol brasileiro não o trate assim. Como o tênis brasileiro fez com Guga.

Abraço!