Ganso, é hora de outro não

Ganso, é hora de outro não
O pensamento - talvez o mais valioso instrumento da nossa querida liberdade, pois aconteça o que acontecer na sociedade ninguém será capaz de silenciar a nossa faculdade de pensar -, é o farol que nos guia nesse incerto caminho que um dia resolvemos percorrer e o leme para tomada de novas direções para fugirmos das arapucas imposta pelo inimigo, um cárcere que não tarda a aparecer.

Se enquanto existir consciência seremos eternamente livres para pensar e agir de acordo com os nossos próprios passos, não parece ser as opressões adversárias as nossas maiores prisões. O verdadeiro encarceramento a que estamos sujeitos é deflagrado quando, independentemente do motivo, abdicamos do poder de pensar e nos tornamos indivíduos facilmente influenciados, meros contempladores da realidade - um comodismo insuportável.

Carcereiros de nós mesmos e com o discernimento dos fatos jogado no esgoto de nossas ignorâncias, viramos bestas migratórias em querer trilhar rotas de terceiros. Sem crescimento interno, não há o que gerar de produtivo em uma alma aprisionada a não ser um enorme contingente de ervas daninhas, traduzidos na sua essência pela proliferação dos mais variados e perversos conflitos internos, que turvam significativamente a nossa evolução; o nosso futuro; a nossa querida e estimada liberdade individual.

O futebol é um mundo encardido, carente de educação e com pouquíssimos jogadores com senso crítico, que não renunciam ao livre exercício diário do pensamento no fortalecimento profissional de suas carreiras. Quantos não são os jogadores, que ainda na tenra idade da adolescência - período crucial na formação do caráter -, com suas "asas" clamando por total liberdade, não são levados à desgraça por influências de empresários sanguessugas, diretores de clubes mercenários, propostas indecentes de clubes estrangeiros e por ridículos adjetivos da mídia esportiva, com suas malditas comparações com nomes renomados do esporte, interessada, é claro, no naco que lhe cabe.

É nítido como esse universo do empolgante futebol-negócio tem a capacidade de gerar sem nenhuma dificuldade na vida dos atletas a escuridão de um buraco negro, que engole toda a energia; toda a existência, deixando escapar apenas o silêncio. O absoluto silêncio de quem já não pensa por si; de quem já não caminha com as suas próprias pernas; de quem já não enxerga o perigo. Frutos de uma mente inerte, apequenada, sem saída e uma isca fácil para os vorazes predadores que infestam esse meio.

Os exemplos estão aí, aos montes, nem é preciso mencioná-los, aliás, um exemplo recente merece destaque: o garoto Paulo Henrique Ganso.

Ganso diz que está tudo bem, pouco fala. Mas até o padre da esquina clama pela volta do seu bom futebol que o levou à seleção brasileira. Será que Ganso foi obra do ilusionismo ou será que a jogatina que envolve o seu futuro, até então promissor, não seria a grande responsável pelos atuais conflitos que o atleta atualmente passa, produzidos pela ganância de seus empresários e pela falta de sensibilidade do experiente e intelectual presidente do Santos Luis Alvaro?

O desfecho desse imbróglio para a carreira de Ganso poderá ter resultados imprevisíveis. Tudo porque, o jovem meia santista, não responde mais por si. Já não se recorda onde guardou as chaves que o seu raro talento certamente poderia lhe abrir, de forma natural, dentro do próprio Santos, novas oportunidades e conquistas pessoais.

Paulo Henrique Ganso é vítima. Mas seu espírito está preso, sua vida não cresce, seu estado de homem livre está comprometido. Eles, os outros, é que são os réus da história. Mas estão livres, leves e se fortalecendo de liberdade alheia.

Está na hora de Ganso acordar e fazer valer o poder de seu julgamento e chamar a responsabilidade desse péssimo jogo para si. Como certo dia fez, ainda com a luz do seu pensamento acessa, negando ser substituído do gramado.

A luz do pensamento que o libertará dessa arapuca armada pelos seus inimigos, que impede o retorno da alegria de seu bom futebol e que, certamente, o guiará a passos firmes em busca de novas direções, em busca da sua amada e querida liberdade individual.

Ganso, é hora de voltar a ser o senhor do seu pensamento, é hora de voltar a dizer não.

O Texto foi enviado por Wagner Coelho a nossa coluna do Leitor.

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