Champions League : Arsenal 3 x 0 Milan

Faltou um. O Arsenal foi avassalador, atropelou o Milan no primeiro tempo, mostrou que os 4 a 0, fora o baile, no San Siro não passaram de um acidente, mas não conseguiu a classificação para as quartas de final da Liga dos Campeões. Apesar da vitória por 3 a 0 da equipe inglesa, foram os italianos que avançaram na competição mais importante de clubes do continente, em partida que justificou esse status, nesta terça-feira, no Emirates Stadium, em Londres.

Acuado na defesa, o Milan sofreu com uma verdadeira avalanche vermelha nos 45 minutos iniciais, que começava nas arquibancadas e acabava dentro de campo. Com atuações de gala de Walcott e Rosicky, o Arsenal colocou 3 a 0 no placar, com gols do tcheco, Van Persie e Koscielny. O milagre, no entanto, não aconteceu no segundo tempo, quando os rossoneros entraram no jogo e equilibraram as ações, chegando às quartas de final após quatro anos. O adversário na fase seguinte será conhecido através de sorteio no dia 16.

O Arsenal viu a chance da virada histórica ser desperdiçada justamente nos pés de seu maior craque: Van Persie. Ainda no começo do segundo tempo, o holandês teve chance clara na pequena área, após rebote de Abbiati, mas acertou o goleiro.

Início avassalador mantém sonho vivo
A missão era difícil, mas a empolgação dos cerca de 60 mil torcedores presentes no Emirates Stadium deixava claro, desde antes da entrada das equipes em campo, que o Arsenal não seria presa fácil para o Milan. Mesmo após os 4 a 0 da partida de ida no San Siro, cantos ensandecidos e cartazes com a frase “Nós acreditamos” deram o tom da entrada dos gunners no gramado. E não demorou muito para que a estratégia surtisse efeito.

Com fome de bola e embalado pelas viradas nos clássicos contra Totteham e Liverpool, nas últimas rodadas da Premier League, o Arsenal começou a partida a mil por hora e acreditando que seria, sim, possível reverter a desvantagem rossonera. Com Walcott aberto pela direita, Gervinho pela esquerda, e Chamberlain e Rosicky bem avançados, Van Persie não ficou sozinho na missão de fazer gols, e o time inglês sufocou o Milan desde o minuto inicial.

Acuado, o time italiano deixava clara a intenção de jogar nos contra-ataques. Estratégia que virou obrigação diante da postura do Arsenal, principalmente após Koscielny abrir o placar logo aos sete minutos. Após cobrança de escanteio de Chamberlain, ele aproveitou cochilo de Abate para testar sozinho na pequena área para marcar. Dose perfeita de otimismo para os já confiantes torcedores.

Marcando forte no campo de ataque, o Arsenal não deixava o Milan sequer passar do meio-campo com a bola dominada, forçando erros defensivos do adversário. Quando tinham a posse da bola, os ingleses não perdiam tempo e ligavam o ataque com toques rápidos e objetivos. Foi assim que Walcott acionou Van Persie em duas oportunidades, ambas defendidas por Abbiati. O holandês, por sinal, vacilou em fato raro e desperdiçou outra boa chance de ampliar após vacilo de Emanuelson. Já na entrada da área, o camisa 10 tentou passe para Rosicky e errou.

Thiago Silva falha

O tcheco, por sua vez, fazia partida primorosa, assim como Walcott. E a dupla foi responsável pelo segundo gol do Arsenal, aos 26. O inglês fez o que quis com Mesbah pela direita e cruzou rasteiro. Thiago Silva cortou muito mal e deu uma “assistência” para Rosicky dominar e deslocar Abbiati: 2 a 0.

A postura agressiva do Arsenal somada ao apoio da torcida, que vaiava a cada toque italiano na bola, deixou o Milan nitidamente nervoso. Ibrahimovic e Robinho praticamente não participaram da partida, enquanto jogadores como Nocerino e Van Bommel não facilitavam em nada as ações da defesa. A virada histórica, que antes era vista como impossível, parecia questão tempo. Sensação que ficou ainda mais forte aos 42.

Até então mais preocupado com ações defensivas, Chamberlain se empolgou com a boa atuação de Walcott e resolveu se aventurar pelo lado direito de ataque. Deu certo. Em arrancada sensacional, o jovem foi derrubado por Mesbah dentro da área. O árbitro demorou, mas marcou a penalidade, cobrada com perfeição por Van Persie: 3 a 0 num primeiro tempo em que só uma equipe jogou.

Uma chance para cada lado

Na volta para a etapa final, a precaução tomou conta dos dois times. Apesar de precisar de mais um gol, o Arsenal sabia que se o Milan marcasse o primeiro tempo perfeito praticamente iria por água abaixo. Os italianos, por sua vez, se soltaram e passaram a jogar também. Tanto que, pela primeira vez na partida, Szczesny trabalhou ao sair com coragem nos pés de Ibrahimovic, após passe de Robinho.

Ainda assim, o Arsenal parecia mais ligado e ambicioso diante de um adversário mais preocupado em defender uma vantagem que por pouco não foi por água abaixo em vacilo de Van Bommel. Aos 14, o holandês cochilou no meio-campo e foi desarmado por Rosicky, que serviu a Gervinho. O marfinense avançou com espaço até invadir a área. Sem confiança na perna esquerda, tentou o chute de direita para boa defesa de Abbiati. No rebote, sozinho na pequena área, o ídolo Van Persie tentou um toque de classe e parou no goleiro em lance digno de “Inacreditável Futebol Clube”.

O jogo que já era bom pela exibição do Arsenal ficou excelente quando o Milan entrou no jogo. Aos 18, Ibrahimovic ficou com a bola após saída errada de Szczesny e tentou chute de primeira da intermediária levando muito perigo. Antes inquieta, a torcida do Arsenal trocou a barulheira por silêncio seguidos de gritos de “uh” a cada chance desperdiçada. Um gol inglês levaria a partida para a prorrogação, enquanto um gol italiano praticamente liquidava a fatura. Tensão total no Emirates.

Nervosismo não muda placar

À medida que o tempo passava, a precaução do início da segunda etapa dava lugar à ansiedade pelo quarto gol. Assim, o Arsenal se mandava para o ataque e deixava espaços na defesa. E foi justamente neste espaço que Robinho e El-Shaarawy levaram perigo em jogadas de velocidade pelo lado esquerdo.

Mesmo com a melhora dos italianos, o Arsenal continuava com maior posse de bola e se mantinha no campo de ataque. Ao contrário do primeiro tempo, porém, o nervosismo causava erros bobos de passe e individualismo excessivo em algumas jogadas. Tanto que era o Milan quem mais se aproximava do primeiro gol do que os Gunners de levar a partida para prorrogação. Como no lance em que Nocerino, livre na pequena área, acertou a perna de um Szczensy que parecia ter desistido da jogada e se resignado com o gol sofrido.

No fim, o panorama não se modificou, e os italianos puderam comemorar a ida às quartas pela primeira vez desde que se sagraram campeões, em 2007.