Nem melhor, nem pior, muito menos diferente.


No Brasil, jogador de futebol é tratado de maneira diferente de qualquer outra classe profissional. Para o bem e para o mal.

Não deveria. Porque jogador de futebol não é melhor, nem pior, muito menos diferente de outro profissional.

Se, por exemplo, desfrutam de certa tolerância em casos de indisciplina ou eventuais atrasos a treinos, os boleiros do país costumeiramente convivem com problemas geradores de protestos e greves em outras categorias, entre eles os atrasos no pagamento dos salários e as condições de trabalho muitas vezes abaixo do aceitável.

Equilíbrio na balança que colabora para a política do "não posso reclamar", seja por parte dos dirigentes ou dos atletas. Cenário que pode começar a ser alterado caso os envolvidos com o nosso futebol interpretem de forma madura a decisão dos jogadores do Vasco da Gama de, por conta de pendências salariais, se recusarem a adotar o regime de concentração antes da partida contra o Bangu.

As primeiras lições devem ser aprendidas pelos próprios protagonistas do espetáculo, quem vai a campo. Uma delas, a que mostra ser possível manter o profissionalismo, sem fazer corpo mole, e, ainda assim, cobrar aquilo que lhe é de direito. Outra, o ganho da percepção de que a recíproca também é verdadeira: à medida em que se colocam na posição de exigir, é natural que sejam mais exigidos, feito ocorre em qualquer área de atuação.

No lado dos dirigentes, os ensinamentos são tão grandes quanto. O maior, respeitar o princípio básico das finanças: não gastar o dinheiro que não têm com contratações ou salários astronômicos, a fim de fazer média com a torcida. Um deveras importante, entender seus empregados como empregados quaisquer. Reintere-se, para o bem e para o "mal", com os bons e velhos direitos e deveres, cujos ambas as partes teimam em não respeitar.

Por fim, cabe reflexão também por parte do torcedor, que, apoiado pela justificativa da paixão, transforma o futebol em obsessão. Quem paga ingresso possui o direito de vaiar, gritar, xingar, exigir comprometimento nos 90 minutos de uma partida. "Só".

Quem paga ingresso não pode querer definir como o jogador administrará o dinheiro a que faz jus por contrato.

Quem paga ingresso não pode exigir que o mês do jogador tenha 32, 40 ou 60 dias, até porque ele próprio não gosta quando seu mês tem 32, 40 ou 60 dias.

Mas quem paga ingresso poderia reclamar quando o cartola fanfarrão traz o medalhão que não cabe nas finanças do clube.

Do mesmo jeito que quem paga ingresso poderia reclamar quando o clube fica anos e anos entregue a uma administração irresponsável, "mas que conquista títulos".

Alguém faz isso?

Então, parceiro, agora não adianta reclamar.

Abraço!