Onde os clássicos cariocas devem ser realizados?

No papel, a iniciativa foi válida.

Marcar clássicos para a última rodada, evitar suspeitas sobre as "entregadas".

Mas, no papel, a iniciativa foi muito mal planejada.

Se é que foi, sequer, um pouco planejada.

O Rio de Janeiro tem, hoje, apenas um estádio capaz de suportar os grandes jogos.

Aliás, o Rio de Janeiro tem, não é de hoje, apenas um estádio capaz de suportar os grandes jogos.

E atenção, radicais da internet! quando digo que o Rio de Janeiro tem apenas um estádio capaz de suportar os grandes jogos, levo em consideração os aspectos técnicos. Embora, no futebol brasileiro, no país de uma forma geral, os aspectos técnicos fiquem em segundo, terceiro plano, quando há interesses outros envolvidos.

Vamos às possibilidades, se eu esquecer alguma, por favor, me ajudem.

A primeira delas, a mais aterradora para a (des)organização do campeonato, é que Vasco e Fluminense saiam do domingão com chances de título, Botafogo e Flamengo ainda de olho na Libertadores. Ou, para resumir e não precisar exercitar análise combinatória, digamos que em ambas as pelejas da última rodada haja pelo menos um time com - apelando para o termo da moda - algum interesse maior envolvido. Nesse caso, o que fazer?

Considerando tal hipótese, a situação mais "simples" de resolver ocorreria caso o Flu não lutasse mais pela taça, somente o Botafogo pela vaga. Com o Vasco na briga pelo título, diria o bom senso, o Engenhão deveria ser utilizado para o jogo entre o Cruz-maltino e o Rubro-Negro.

Mas, considerando tal hipótese, nem mesmo essa situação mais "simples" de resolver seria simples de resolver. Porque será que o simpático e sempre acolhedor Raulino de Oliveira suportaria a torcida tricolor, em lua de mel com o time, e a massa botafoguense, sedenta por empurrar sua equipe rumo à América? Seria justo o Glorioso, administrador do João Havelange, ser expulso de sua própria casa, com ou sem "objetivos maiores"?

E acho desnecessário simular as possibilidades de um Vasco X Flamengo, talvez a maior rivalidade contemporânea do Rio, ser realizado em um local sem a devida estrutura.

No entanto, há um outro detalhe, muito além do problema logístico da questão, que incomoda: a reação dos torcedores dos envolvidos diante da confusão.

Desculpem, mas não há por que tirar sarro de ninguém.

Perdoem, mas não há por que se vangloriar de nada.

Foi mal, mas estamos todos no mesmo barco.

Iludidos, enganados.

Por vezes, opilados por nossa paixão.

Porque, para os dirigentes, flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses, todos nós, estamos dentro da mesma privada.

E não importa que a rivalidade acima do limite não nos deixe enxergar isso.

Texto do colunista Roberto Júnior.