Casal sem vergonha

Nosso time se rende aos caprichos do patrocinador. Mas se ganha um título, a gente nem liga. Não é, tricolores?

Nosso time troca o elenco todo, todo ano. Faz tudo errado. Mas se traz um outro medalhão, mesmo um daqueles que pouco ajudam, a gente nem liga. Não é, atleticanos de Minas?

Nosso time cai no conto do vigário do beijo no escudo e é destratado por um jogador que se acha mais do que é. Mas se o cara dá um ou dois carrinhos e três cotoveladas, a gente nem liga. E ainda lhe coloca apelido carinhoso. Não é, palmeirenses?

Nosso time é dominado por uma dinastia - ou ditadura - que não parece - e não quer - ter fim. Mas se durante esse tempo ela consegue nos convencer de que somos um clube "diferenciado", a gente nem liga. Não é, são-paulinos?

Nosso time é governado anos e anos por um único sobrenome. E, embora esse sobrenome esteja meio sujo na praça, a gente nem liga. Porque esse sobrenome, embora sujo na praça, nos rendeu a soberania no Estado. Não é, cruzeirenses?

Nosso time vive uma bagunça administrativa gigante. As diversas correntes políticas não se entendem. Tem jogador que se coloca acima do clube. Adoram nos arrumar factoides de contratações bombásticas. Mas se, vez ou outra, pinta uma taça, a gente nem liga. Não é, flamenguistas?

Nosso time, em um passado recente, se aliou com um pessoal um tanto suspeito. Mas se esse pessoal um tanto suspeito é o que pode nos trazer de volta um velho ídolo, a gente nem liga. Não é, corinthianos?

Nosso time obtém um privilégio que deveria ser de todos. Adia jogos. Entra em campo quando quer. E, ao invés de brigar também pelos outros, só pensa no próprio benefício. Mas, enfim, se isso permitir que ele não fique muito para trás no campeonato, a gente nem liga. Não é santistas?

Cantaria o pagode, sem vergonha, nós e nossos clubes, formamos um casal sem um pingo de vergonha.