Histórias do Futebol #3 - Tudo sobre a Copa União de 1987

Tudo sobre a Copa União de 1987
 Em 1987, o Otávio Pinto Guimarães (então presidente da CBF), reconheceu publicamente a impossibilidade financeira de organizar o campeonato brasileiro daquele ano. O dinheiro da Loteria Esportiva, que bancava boa parte desses gastos, era cada vez menor depois que estouraram escândalos de fraudes e armação de resultados.

Neste cenário, o Campeonato Brasileiro foi se tornando altamente deficitário para a CBF, que tinha de arcar com os custos das viagens e hospedagem dos times, e para os clubes, que só conseguiam encher os estádios em partidas decisivas ou em clássicos contra rivais de tradição. É interessante ressaltar que isto acontecia numa época em que nossos craques estavam, em sua maioria, jogando no Brasil.

SURGIMENTO DO CLUBE DOS 13
Jornal falando sobre Copa União de 87
Jornal Gazeta Esportiva, mostra em sua capa : Clube dos 13 ganha luta contra CBF.
Já insatisfeitos com os prejuízos acumulados durante anos e com o que classificavam de “falta de representatividade” na decisão dos rumos do futebol brasileiro, os principais clubes do país aproveitaram o momento favorável para levar adiante o antigo sonho de fundar uma liga independente da CBF.

Anteriormente, o expresidente do Fluminense, Francisco Horta já havia tentando criar uma associação de 26 clubes, mas a iniciativa esbarrou na falta de união dos clubes. Nessa nova tentativa, o objetivo dos dirigentes era o de aumentar o poder de negociação dos clubes com a CBF, tratar o futebol como uma atividade econômica que precisava ser lucrativa para sobreviver e resgatar a credibilidade dos dirigentes, altamente desgastada por casos de corrupção e de incompetência administrativa.

Depois de longas negociações, em que foram superadas divergências e rivalidades, assinaram em 11 de julho de 1987 a ata de fundação desta liga quatro clubes de São Paulo (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos), quatro do Rio de Janeiro (Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo), dois do Rio Grande do Sul (Grêmio e Internacional), dois de Minas Gerais (Cruzeiro e Atlético) e um da Bahia (Bahia).

O número de participantes deu ao grupo o nome de Clube dos 13, mantido até mesmo quando foram admitidos mais sete membros, já nos anos 90 (Sport Recife, Portuguesa-SP, Coritiba, Goiás, Atlético-PR, Guarani-SP e Vitória-BA).

Mas apesar da disposição de se libertar da CBF, os clubes perceberam que, da teoria
para a prática, um obstáculo tão grande quanto a sua “ilegalidade” era a falta de dinheiro. Para realizar a competição sem a ajuda da CBF, os clubes precisariam levantar uma quantia de US$ 1 milhão.

Várias reuniões foram realizadas e ninguém chegava a uma conclusão sobre como levantar esse valor. O problema era tão grave que alguns membros do Clube dos 13 já admitiam ceder à CBF, que a esta altura já levantava a possibilidade organizar outro tipo de competição, o que seria um racha fatal para o recém-nascido movimento.

Para conseguir os valores necessários para realizar a Copa União, alguns dos dirigentes do Clube dos 13, foram atrás de patrocinios. Conseguiram os patrocinios, somados aos contratos da TV Globo e da Coca-Cola, levantaram US$ 6 milhões em apenas um mês. Os clubes nunca haviam visto tanto dinheiro assim, de uma hora para outra.

Pela primeira vez desde a criação do Campeonato Brasileiro, em 1971, eles entrariam numa competição sabendo que ela seria superavitária. E isso independentemente da classificação final da equipe. O dinheiro mais uma vez falou mais alto!

COPA UNIÃO

Em 1987, a CBF decidiu diminuir o número de clubes participantes de 80, como foi em 1986, para 28. Com isso, o Botafogo e Coritiba cairiam para a segunda divisão. Os dois clubes entraram na Justiça contra o campeonato, e o Clube dos 13, organização que reúne os 13 mais importantes clubes do Brasil, resolveu organizar o campeonato.

Em uma tentativa de organizar o futebol e os grandes clubes unirem forças, foi fundado o clube dos 13. Sim, o clube dos 13 foi uma "panela" criada entre os maiores clubes do Brasil, e estes de forma independente, fizeram uma competição.

Mas a competição foi criada com o aval de quem?
Dos próprios interessados. Os grandes clubes.

Como descrito acima, os clubes precisavam do dinheiro oferecido pela Globo e Coca-Cola para tornar o futebol lucrativo. Com isso, eliminaram do campeonato clubes de médio porte, tais como o vice Guarani de 86, o América-RJ, Portuguesa, dentre outros.

Em compensação, clubes rebaixados em 86, como Coritiba e Botafogo, faziam parte do torneio criado pelo clube dos 13. O Botafogo por ser membro, o Coritiba convidado, assim como Goiás e Santa Cruz.

Não pensem que convidaram estes 3 clubes por gosto. Apenas, queriam fazer a disputa ficar com número par, 16 clubes. Seus 13 membros, mais Coritiba, Goiás e Santa Cruz participam do chamado "Módulo Verde".

A CBF na tentativa de regulamentar a competição, pois era irregular, criou o módulo amarelo com os outros clubes restantes ou não convidados.

No Módulo amarelo, dito segunda divisão, jogavam Guarani vice de 86 e América-RJ 4º colocado e mais algumas equipes, tais como : Criciúma, Joinville , Inter de Limeira, Portuguesa, Atlético-PR, Rio Branco-ES, Bangu, Treze, Ceará, CSA, Náutico, Atlético-GO, Sport e Vitória.

Por interesse da mídia, obviamente, a competição do módulo verde era chamada de primeira divisão, pois os clubes que nela estavam, representavam mais de 90% das torcidas do Brasil.

Quem poderia então reclamar, os torcedores de Guarani, América-RJ e outros clubes de menor expessão para o futebol?

Alguém acredita que seriam atendidos?

Há de se ressaltar que na dita "primeira divisão" jogavam Botafogo e Coritiba, rebaixados em 1986.

Outo detalhe importante! Todas as equipes citadas do módulo amarelo, estavam jogando a primeira divisão em 1986. Aliás, várias destas equipes jogaram a fase de mata-mata em 1986, correspondendo as fases finais.  

Portanto, conclui-se que não são equipes da segunda divisão em 1987, ou tamanho de torcida rebaixa clube?

Creio que uma equipe para cair de divisão, não deve cair por escolha de outras equipes (Clube dos 13), ou por imposição da mídia (Rede Globo), deve cair pelo regulamento proposto no ano vigente, o que não aconteceu.

A CBF nesta ocasião em particular, por íncrivel que pareça, fez o correto. Para não atrapalhar o campeonato ilegal (módulo verde) que já estava em vigor e dar direito aos clubes excluidos de jogarem, pois reafirmo, não foram rebaixados em 86, fizeram o cruzamento de chaves, tal como já havia sido realizado em 1986.

A CBF então determinou que o campeonato seria decidido num quadrangular entre os campeões e vices do Módulo Verde e do Módulo Amarelo, proposta inicalmente rejeitada pelo Clube dos Treze. Obviamente os clubes de maior expressão não queriam outros candidatos ao título, e se uniram contra a idéia da CBF. Mas posteriormente, a proposta foi assinada sob ameaça de intervenção da FIFA.

A primeira medida foi criar um campeonato à parte, a Copa União. A CBF, ameaçando uma punição rigorosa, via FIFA, conseguiu o acordo com o clube dos 13, e todos decidiram que o campeonato seria dividido em módulos, com os maiores clubes disputando o módulo Verde, e os de menor expressão, o Módulo Amarelo. No final, os dois melhores de cada módulo, disputariam uma semifinal.

A confusão começou no momento em que os cartolas do clube dos 13 decidiram, entre si, que não jogariam o quadrangular final com os vencedores do módulo amarelo. Reafirmo, é obvio que os clubes de maior expressão não queriam prolongar o campeonato.

Mas, ao longo do campeonato, o representante do clube dos 13 foi à CBF e, de forma independente, assinou o acordo para que os jogos finais entre os módulos fossem jogados. Esse representante se chamava Eurico Miranda.

O Flamengo foi o vencedor do Módulo Verde. Já o Sport Club do Recife venceu o Módulo Amarelo e o quadrangular final da CBF (que só teve a participação de Sport e Guarani) e foi declarado pela CBF o Campeão Brasileiro de 1987.

Sport e Guarani (oficialmente o campeão e vice do Brasileiro de 87), foram os representantes do país na Taça Libertadores de 1988.

CONCLUSÕES
  1. O Campeonato de 1987 foi e até hoje é lembrado por esta bagunça;
  2. Os 13 grandes clubes do Brasil, tinham sim o direito de se organizarem para ter maiores lucros no futebol, mas não o direito de excluirem outras equipes de uma competição dita nacional;
  3. A história de primeira e segunda divisão está bem esclarecida no texto. A definição correta para os termos, é módulo verde e amarelo. Pois em ambos módulos haviam equipes da primeira e segunda divisão;
  4. O Módulo verde foi um combinado entre os maiores clubes do Brasil [Clube dos 13]. O Critério usado para jogar o módulo verde, era estar no clube dos 13 ;
  5. Coritiba, Goiás e Santa Cruz só jogaram o módulo verde, para completar a tabela, pois com apenas 13 equipes, em formato impar, a tabela seria prejudicada;
  6. Atualização: A CBF anunciou em documentos, seu parecer sobre 1987. Leia
Trecho extraido do site da Globo : "Naquele ano, os 13 principais clubes do país (Vasco, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Santos, Fluminense, Botafogo, Atlético-MG, Cruzeiro, Inter, Grêmio e Bahia) resolveram tomar a frente e tentar comandar o Campeonato Brasileiro, que passou a ser chamado de Copa União. Essas diretorias não estavam satisfeitas com a organização dos últimos campeonatos e travaram uma longa queda-de-braço com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e até a Fifa, que chegou a ameaçar desfiliar os clubes."

Grande parte do texto foi retirado da entrevista com João Henrique Areias, um dos pioneiros do marketing esportivo no Brasil. Areias participou ativamente do movimento que culminou com a criação do Clube dos 13 há 22 anos, movimento que introduziu uma série de inovações para o futebol brasileiro.

Para ler a entrevista na integra, clique aqui

Espero ter contribuido de alguma forma, para esclarecer dúvidas que ainda pairam sobre este periodo bagunçado de nosso Futebol brasileiro.

Um abraço,

Douglas Nacif.

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